O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) recuou na exigência de um depósito final para o lixo das usinas nucleares ao autorizar ontem a retomada da construção da usina de Angra 3 -interrompida nos anos 80. Em vez do início da construção de um depósito final até 2014, um depósito de "longo prazo" para os rejeitos deverá ter um projeto detalhado até a conclusão das obras da usina, segundo condição apresentada na licença.
Depois de um período de resfriamento de décadas em piscinas instaladas dentro da usina, o combustível usado pelas usinas de Angra será destinado a um depósito a ser construído em local ainda não definido por um período de 500 a 1.000 anos, prevê o Ibama, com base em estudos preliminares encaminhados pela Eletronuclear, estatal responsável pela obra.
A usina nuclear de Angra 3 é uma das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) a serem construídas integralmente com dinheiro público: R$ 7,3 bilhões, segundo o balanço do programa. O cronograma oficial prevê a inauguração em outubro de 2014.
Ontem, o Ministério de Minas e Energia informou que os planos estão mantidos. A Eletronuclear esclareceu que o início das obras depende ainda de uma licença da Prefeitura de Angra dos Reis (RJ) e outra da Comissão Nacional de Energia Nuclear, além do aval do Tribunal de Contas da União à revisão do contrato com a Andrade Gutierrez. A empreiteira tocava a obra quando a construção foi suspensa, 23 anos atrás.
RadiaçãoAo conceder a licença prévia à retomada das obras, em julho, o Ibama impôs mais de 60 condições, entre elas o início da construção de um depósito final para os rejeitos radioativos. Depois de usado na usina, o combustível nuclear à base de urânio continua emitindo radiação por milhares de anos. "Não há prejuízo ambiental nenhum, dá para esperar", disse ontem o presidente do Ibama, Roberto Messias Franco.
"O depósito pode estar no projeto em 2014", completou. Entre as 44 condições apresentadas ontem, a licença para o início das obras de Angra 3 não fala mais em depósito final, mas depósito de "longo prazo", abrindo a possibilidade de reciclagem do combustível nuclear, no futuro. "Não podemos jogar fora uma coisa que poderá ser reutilizada", argumentou Messias Franco sobre o recuo.
Por ora, não há definição do local que abrigará esse depósito, que servirá para as três usinas de Angra dos Reis e, provavelmente, para as próximas quatro usinas nucleares planejadas no Brasil. Mas o esboço apresentado pela Eletronuclear prevê depósitos secos e blindados em formato de galpão, do tamanho aproximado de um campo de futebol. A cada dois anos, as usinas de Angra 1 e 2 trocam a terça parte do combustível dos reatores.
(Por Marta Salomon,
Folha de S. Paulo, 05/03/2009)