“O preço de um tanque cheio de bicombustível é a morte”. Esta é mensagem da campanha anual da Swissaid, uma grande organização suíça de ajuda ao desenvolvimento, atuante em oito países.
Levei um susto, quando vi pela primeira vez o outdoor abaixo em frente ao prédio em que eu moro em Berna. Pensei que fosse publicidade de uma funerária. Não é. Indiretamente tem a ver com o Brasil.
Conversei com o porta-voz da Swissaid, Lorenz Kummer, e ele me explicou algumas coisas. O que a ONG quer dizer é que, “em caso extremo”, a produção de agrocombustíveis reduz o plantio de alimentos, que então encarecem, tornando-se inacessíveis para pessoas pobres, que podem até morrer de fome. “Há muitos estudos internacionais que comprovam isso”, disse.
Segundo o material da campanha da Swissaid, “para um tanque de 95 litros de agrocombustível são necessários 200 quilos de milho. Uma cifra que ilustra perfeitamente até que ponto é absurdo transformar alimentos em etanol”.
Perguntei-lhe se a mensagem da campanha “Agrocombustíveis - mentira climática às custas dos pobres” também se aplica à produção do etanol no Brasil, ou seja, se ela mata. Kummer foi sincero e disse que não conhece suficientemente a situação do Brasil. A Swissaid não atua no país. A campanha destaca a produção de biodiesel a partir de palmeiras na Colômbia.
Expliquei que o governo brasileiro não perde uma oportunidade para rebater as críticas européias à produção do etanol – realizou até uma conferência internacional com esse fim no ano passado – e que, segundo a versão oficial, os canaviais ocupam apenas 1% da área agricultável do Brasil e não destroem a Floresta Amazônica.
Kummer admitiu que “não é possível estabelecer um vínculo direto entre a produção de etanol e um número X de mortes num determinado país. A realidade é muito mais complexa e isso é impossível de ser expresso através de slogan publicitário.”
O objetivo da campanha, segundo Kummer, é chamar a atenção para “as relações complexas entre a produção de biocombustíveis e de alimentos”. E, é claro, arrecadar doações. Para isso, ela tem de ser apelativa, “provocadora” - como diz Kummer, porque o mercado de doações na Suíça é bastante disputado.
A Swissaid apóia projetos de desenvolvimento na Índia, Myanmar, Guiné Bissau, Níger, Tanzânia, Chade, Equador, Colômbia e Nicarágua. Em 2008, foram 128 projetos aprovados. Para tanto, ela dispunha de um orçamento de 16,4 milhões de dólares – 25% a mais do que em 2007, graças ao aumento das doações. Kummer disse que ainda é cedo para dizer se a principal campanha deste ano, lançada em 10 de fevereiro passado, está tendo o retorno financeiro esperado. Mas uma coisa é certa: a bomba de posto de combustível transformada em caixão de defunto chama a atenção. E gera polêmica. O que você acha dessa campanha?
(Coisas da Suiça, 04/03/2009)