Os alimentos ditos orgânicos têm preços estratosféricos no supermercado, e onde houver um dinheiro extra a ser ganho, existe a possibilidade de fraude. A maioria dos produtores orgânicos adere aos padrões de certificação, mas existe pouco – ou nenhum – monitoramento no nível do varejo. Dessa forma, um produtor inescrupuloso poderia substituir um alimento convencional por um orgânico. Afinal, leite orgânico não parece ser diferente do leite comum, certo?
Talvez não para um consumidor, mas para um cientista alimentar existem diferenças. Agora, um pesquisador na Alemanha demonstrou a viabilidade em se utilizar testes de laboratório para determinar se uma caixinha de leite orgânico é o que afirma ser.
Conforme descrito por Joachim Molkentin, do Instituto Federal de Pesquisa em Nutrição e Alimentos, na publicação especializada "The Journal of Agricultural and Food Chemistry", os testes usam o fato de que – ao menos da Alemanha – o leite orgânico tem níveis mais altos do ácido gorduroso alfa-linolênico, além de proporções distintas entre carbono e isótopos do que o leite comum. Essas diferenças são relacionadas à alimentação: vacas produtoras de leite orgânico geralmente passam mais tempo pastando (ou consomem mais alimentos derivados do pasto, como gramas e cravos), enquanto as vacas que produzem leite comum comem milho.
Para levar em conta as variações sazonais na qualidade do leite, Molkentin testou quase 300 amostras de leite orgânico e comum, vendidas no varejo na Alemanha, ao longo de 18 meses. Os testes, usando cromatografia a gás a espectrometria de massa, mostraram que o leite orgânico sempre apresentava uma concentração de ácido alfa-linolênico acima de certa porcentagem, enquanto com o leite comum isso era raro (e, nesses casos, as vacas eram criadas em condições atípicas). O leite orgânico também tinha sempre as proporções de carbonos e isótopos abaixo de certo nível.
O estudo aponta que o leite produzido em outros países pode obter resultados diferentes, dependendo das leis sobre a produção de laticínios e de suas práticas.
Ainda assim, o estudo mostrou que, sem muito esforço, pode ser possível assegurar que os consumidores que preferem leite orgânico não comprem gato por lebre.
(Por Henry Fountain, New York Times, G1, 04/03/2009)