O Brasil não aproveita o potencial do ecoturismo. E mesmo os hotéis e resorts que se autointitulam "sustentáveis" estão longe de colocar o conceito em prática - a sustentabilidade se resume a ações sociais esporádicas ou reciclagem de lixo. Essas são algumas conclusões de um estudo elaborado pela consultoria do mercado de hotelaria espanhola Chias Marketing, que analisou as iniciativas dos principais hotéis e resorts com esse perfil no País.
"Diferente de países como a Costa Rica ou a Nova Zelândia, que têm programas intensivos de turismo sustentável, o Brasil ainda tem muito a avançar - apesar se de apresentar ao exterior como um destino ecológico", diz Patrícia Servilha, diretora da Chias Marketing. Hoje, no País todo, apenas dois hotéis possuem a certificação de gestão ambiental ISO 14001, o que representa 0,01% do mercado.
Segundo o Ministério do Turismo, 5,2 milhões de turistas estrangeiros visitaram o Brasil no ano passado. Desses, pelo menos 500 mil vieram em busca de turismo ecológico ou de aventura. "É um mercado extremamente lucrativo. O ecoturista é o que em média mais gasta ao viajar. Ele não se importa de pagar um pouco mais para ter acesso a belezas incomparáveis, e também para que elas sejam preservadas", diz Patrícia.
Enquanto um turista de lazer gasta em média US$ 76 ao dia, ecoturistas chegam a gastar US$ 104. Uma pesquisa feita pela consultoria francesa TNS Sofres com turistas europeus mostrou que 69% concordam em pagar até 30% mais para garantir a preservação ambiental dos destinos.
Foi o que comprovou o Txai Resort Itacaré, localizado no sul da Bahia. A administração do hotel propôs aos hóspedes o pagamento adicional de R$ 20 por estada para financiar iniciativas de sustentabilidade nas comunidades próximas. Entre elas, um programa de incentivo à agricultura orgânica que envolve 23 famílias de produtores.
"Até hoje, não houve um único hóspede que se recusasse a pagar", diz Cínthia Oliveira, coordenadora de projetos sociais do Txai Resort. O hotel compra a produção local e ainda paga meio salário mínimo por família como "compensação por serviços ambientais". "Isso dá às famílias uma renda adicional e evita o desmatamento."
Para Márcio Carvalho, sócio da Ambiental Partners, consultoria de gestão ambiental para hotéis, ainda falta conscientização ao setor. "Existe um dogma que prega que a hotelaria é uma atividade pouco poluente. Só que grande parte dos hotéis e resorts estão em ecossistemas sensíveis, como praias. E dependem justamente do meio ambiente preservado para continuar operando."
(Por Andrea Vialli e Ana Paula Lacerda,
Estado de S. Paulo, 04/03/2009)