O Estado da Austrália Ocidental possui recursos minerais que fazem inveja, exportando para o mundo inteiro seu minério de ferro e seu gás natural. Daqui a alguns anos, o urânio poderá entrar na lista de suas exportações de matérias-primas. Segundo a Associação Australiana do Urânio, as jazidas são grandes e representam 188 mil toneladas de óxido de urânio em 28 pontos. São recursos que o Estado parece estar pronto para explorar; ao contrário de seus predecessores trabalhistas, o novo primeiro-ministro liberal, Colin Barnett, eleito em 2008, é favorável ao desenvolvimento da exploração do urânio. Isso poderia render 200 milhões de dólares em até vinte anos.
Ainda que a Austrália possua as maiores jazidas de urânio do planeta, esse setor foi mal visto durante muito tempo. O temor da energia nuclear e de armas nucleares era muito presente. Além disso, o país possui muitos recursos em carvão, o que lhe permite produzir eletricidade a preço baixo, sem ter de recorrer à energia nuclear.
Na década de 1980, quando as minas de Ranger, Olympic Dam e de Beverly já estavam em atividade, o Partido Trabalhista havia decidido que toda nova mina seria banida nos Estados dirigidos por trabalhistas. "Essas pressões políticas criaram um fosso; ainda que o país tenha entre 38 e 40 jazidas de porte mundial, ele só representa 19% do mercado mundial", comenta Simon Clarke, porta-voz da Associação Australiana do Urânio.
Mas os tempos se tornaram mais favoráveis. Com a China e a Índia prontas para construir dezenas de reatores de energia nuclear, a demanda internacional está forte. O Partido Trabalhista abandonou sua política de veto em 2007. Se diversos Estados, como Queensland e Victoria, continuarem recusando a autorizar as minas de urânio, isso permitirá à Austrália Meridional que continue a desenvolver sua próspera indústria.
Há alguns anos a exploração está em total ascensão. Segundo a agência australiana de estatísticas, os gastos para 2007-2008 atingiram 231 milhões de dólares australianos (€ 116 milhões), contra 114 milhões de dólares em 2006. Ainda que eles levem muitos anos para ter algum resultado, são inúmeros os projetos de minas. Muito esperada, a ampliação feita pela BHP Billiton da mina de Olympic Dam, na Austrália Meridional, deve fazer a produção de 4 mil toneladas de óxido de urânio por ano passar para 19 mil toneladas.
A Austrália exporta principalmente para os Estados Unidos, o Japão e a França. Sobretudo, o país fez recentemente sua primeira entrega na China, um importador e investidor potencialmente muito importante. Apesar das restrições à exportação - a Austrália só exporta para os países participantes do tratado de não-proliferação nuclear -, o urânio rendeu 887 milhões de dólares (€ 444 milhões) em 2008.
Enfim, a ideia de a própria Austrália fazer uso da energia nuclear progride. Os partidários do urânio têm um argumento de peso: a energia nuclear poderia ser uma solução nesse país que, por causa de suas centrais de carvão, emite a maior quantidade de gases causadores de efeito estufa do mundo.
"Os australianos não estão prontos para aceitá-la, existem muitas outras fontes de energia limpa para considerar", comenta Tony Mohr, da Fundação Australiana para a Conservação. Mas uma pesquisa recente realizada pelo instituto Essential Research revelou que os australianos contrários à energia nuclear se tornarão minoria na opinião pública.
(Le Monde, UOL, 04/03/2009)
Tradução: Lana Lim