Barcelona é sempre citada entre as cidades avançadas em termos de sustentabilidade e de mobilidade. Não por acaso, a metrópole espanhola foi escolhida como sede da edição 2009 do fórum anual do Banco Europeu de Investimentos, previsto para esta primeira quinzena de março, cujos temas principais são alternativas para se financiar um transporte ecológico em centros urbanos europeus.
E o aspecto mais positivo do enfoque dado pela prefeitura barcelonesa ao meio ambiente e à melhor qualidade de vida de seus moradores é que seus projetos e metas neste âmbito não param de crescer e ser aprimorados. Tudo isso não se nota só pelos números, mas também pelas pequenas alterações no cotidiano da capital da Catalunha (comunidade autônoma Espanhola).
Dinheiro bem empregado
O orçamento aprovado pelo município para este ano é de quase 3 bilhões de Euros (mais de R$ 9 bilhões). É certo que São Paulo, por exemplo, tem disponível para gastar este ano uma quantidade 3,2 vezes maior, mas é sete vezes mais populosa e sua área correspondente a quinze barcelonas.
Desses 3 bilhões de Euros, 746,2 milhões sairão do caixa da própria prefeitura. O resto vem de diferentes investimentos externos e de fundos que o governo espanhol destinou para enfrentar a crise financeira internacional. E desta cifra, que corresponde a mais alta já disponibilizada na história da cidade (4,1% maior que a do ano passado), 17,5 % estão reservados para Meio Ambiente, Serviços Urbanos e Manutenção. O prefeito Jordi Hereu também promete direcionar 25 milhões de Euros só para infra-estrutura.
“Alguns podem questionar se esses investimentos recordes são bons na atual conjuntura, na qual a crise condiciona tudo”, escreveu Hereu em recente editorial sobre o orçamento, publicado em um dos informativos oficiais do Ayuntament (Prefeitura, em catalão). “Então, digo que sim. As dificuldades não nos impedem de enxergar além”.
Entre as prioridades destacadas por ele para 2009 estão “atenção às pessoas, manutenção do espaço público e mobilidade”. O que isso significa, na prática, pode ser ressaltado em diferentes itens, todos relacionados ao aumento da sustentabilidade e/ou da mobilidade na cidade.
Ônibus melhores e carros elétricos
Os impecáveis ônibus da frota barcelonesa. (Foto: Prefeitura de Barcelona)
A frota de ônibus barcelonesa é modelo de acessibilidade. Todos os veículos são rebaixados e contam com rampas mecânicas para subida de cadeiras de rodas e amplos espaços reservados que, embora originalmente criados para pessoas com deficiências físicas e carrinhos de bebês, fazem a alegria de senhoras com carrinhos de compras e até mesmo de músicos transportando instrumentos imensos como um violoncelo. Dezessete linhas já têm serviço de ajuda a deficientes visuais e auditivos.
Mas a cidade espanhola deseja também que seu transporte afete menos o meio ambiente. Neste momento, estão sendo instalados, em caráter de teste, motores híbridos em diversos ônibus. O sistema propicia um revezamento entre funcionamento elétrico e a diesel e sua intenção é reduzir pela metade as emissões de óxidos de nitrogênio, além de economizar 30% de combustível.
Trata-se de uma das iniciativas para tentar tirar a cidade de recente lista de grandes urbes espanholas com ar de má qualidade, divulgada pelo Observatório da Sustentabilidade da Espanha, entidade fundada há quatro com uma parceira entre Ministério do Meio Ambiente espanhol, Fundação Universidade de Alcalá e Fundação Biodiversidade. Outra medida trata da implementação, até 2011, de cinqüenta pontos de recarga elétrica para automóveis. O primeiro foi inaugurado no ano passado. Cada motorista paga uma taxa de 1,2 Euro mais 1,95 pela hora de serviço.
Controle de velocidade
Também para reduzir a emissão de poluentes caminha o controle de velocidade nas estradas de 40 municípios da província (estado) de Barcelona. Um recente levantamento concluiu que, após o início da implementação de 80 quilômetros por hora como limite de velocidade, os automóveis da região estão emitindo 4% menos gases.
O controle de velocidade também joga a favor dos pedestres em outra medida, nas chamadas Zonas 30. Denominam-se assim as áreas da cidade onde se admitem automóveis, desde que circulando a no máximo 30 quilômetros por hora. Cerca de vinte bairros barceloneses têm essa limitação, que diminuem em até 30% os acidentes e estimulam o comércio nas vias. As ruas em si também contam com atenção especial. Cerca de 600 delas devem passar por obras este ano, incluindo alargamentos de calçadas e restauração.
Metrô em constante crescimento
O metro de Barcelona, agora em reformas e ampliação, transportou quase 400 milhões de pessoas em 2008. (Foto: Prefeitura de Barcelona)
Mais essencial ainda, o metrô de Barcelona continua crescendo e sendo reformado. Ano passado, transportou quase 400 milhões de passageiros. A rede, que já conta com mais de onze linhas, 121 estações e 104 quilômetros de extensão, acaba de inaugurar mais duas estações. A obra custou 142 milhões de Euros e favorecerá 14 mil pessoas por dia.
A Generalitat (governo da Catalunha) estima que, até 2014, a rede tenha 185 quilômetros de extensão e oitenta estações novas (chegando a 200). Das já existentes, 78 estações são acessíveis com elevadores, 27 estão em obras e 16 deverão ter essa adaptação aprovada em breve.
Duas rodas no transporte
Não dá para falar sobre os avanços de Barcelona nos âmbitos de sustentabilidade e mobilidade sem mencionar o emprego da bicicleta como meio de transporte na cidade. Hoje há 128 quilômetros de ciclovias, que devem aumentar em 20% nos próximos anos, especialmente com o Bicing, sistema público de uso de bicicletas (imagem no topo da reportagem).
Lançado em março de 2007, transformou-se numa febre, ainda que muitas de suas anatômicas bicicletas apresentem freqüentes defeitos técnicos (alguns causados por vandalismo). O sistema já conta com cerca de 180 mil inscritos e mais de 400 estações, cada uma com um número médio de quinze bicicletas.
O sistema permite que, por 30 Euros ao ano, ou 1 Euro pelos planos semanais, cada usuário desfrute das “magrelinhas” como meio de transporte. É só colocar o cartão de sócio próximo ao sensor da estação e uma das bicicletas é liberada. Elas podem ser devolvidas em qualquer outro posto. Não se paga nenhuma taxa extra pelo uso por meia hora e os três blocos de trinta minutos seguintes custam 50 centavos de Euro (cobrados no cartão de crédito). O limite é de duas horas e seu não cumprimento supõe multa de 3 Euros. Quem recebe três multas perde o direito de usar o serviço: uma “bobeada” que merece ser evitada.
(O Eco, 04/03/2009)