Justiça mandou Estado retirar os sem-terra de duas fazendas do grupo Opportunity; empresa diz que gestão de petista é leniente com MSTMesmo tendo sido obrigado pela Justiça a expulsar os sem-terra que invadiram fazendas da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara -do grupo Opportunity, de Daniel Dantas-, o governo do Pará afirmou que não deve cumprir nos próximos meses os dois mandados de reintegração de posse deferidos em favor da empresa.
Os mandados que a Santa Bárbara conseguiu se referem a invasões feitas no ano passado. Mas, apenas neste ano, sem-terra entraram em mais 11 das suas propriedades no Estado.
Duas destas invasões foram realizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no último fim de semana. Para o MST, as terras são griladas e devem ser direcionadas para a reforma agrária. A Secretaria Estadual da Segurança Pública disse que não pode cumprir as determinações imediatamente porque as desocupações são caras e demandam o deslocamento de policiais de várias cidades, que precisam de treinamento específico para esse tipo de ação.
Além disso, afirma a pasta, existem ao menos outros 60 mandados que devem ser cumpridos antes que os da Santa Bárbara. A ideia do governo é que os sem-terra saiam das fazendas da empresa por meio de negociações.
A secretaria disse que nem sequer terminou de cumprir as ordens judiciais dos dois últimos governos-dos tucanos Simão Jatene e Almir Gabriel. Algumas delas foram expedidas há nove anos. Entre 2007 e 2008, os dois primeiros anos da gestão de Ana Júlia Carepa (PT), 50 dos cerca de 90 mandados acumulados foram cumpridos, segundo a pasta.
O não-cumprimento das ordens reforça o conflito entre a empresa e o governo, que tenta na Justiça anular as compras de duas fazendas do grupo de Dantas, sob o argumento de que elas são terras públicas.
Para a Santa Bárbara, há leniência no tratamento dado aos invasores. A governadora, eleita com o apoio dos movimentos sociais agrários, chegou a chamar Dantas de "bandido", durante o Fórum Social Mundial, em Belém, em janeiro passado.
Segundo Charles Trocate, da coordenação do MST, entrar nas fazendas de Dantas será a "principal batalha" do movimento nos próximos três anos.
(Por João Carlos Magalhães, Agência Folha,
Folha de S. Paulo, 03/03/2009)