O governo da Costa Rica aposta em aumentar a geração elétrica a partir das fontes de vapor vulcânico e promove um projeto de lei para perfurar vulcões em parques nacionais, o que desperta resistências. Em janeiro, o Instituto Costarriquenho de Eletricidade (ICE) divulgou a contratação de equipamento para a central geotérmica de Las Pailas, nas ladeiras do vulcão Rincón de la Vieja, na província de Guanacaste. Espera-se que comece a operar em 2011, acrescentando 35 megawatts aos 163,5 que já proporcionam as cinco unidades da central do vulcão Miravalles, em funcionamento desde 1994. Ainda em 2008, começará a trabalhar em um terceiro projeto, o Borinque, na face noroeste do vulcão Rincón de la Vieja.
A geotermia aproveita o vapor do subsolo nas regiões vulcânicas. Obtém-se energia extraindo o calor interno da terra, na forma de um fluido com o qual as turbinas são movimentadas. Em cada caso, foram perfurados dois poços. De um se obtém água quente e no outro é reinjetado o caudal, após ter esfriado. Na Costa Rica se trabalha com poços de alta temperatura (entre 150 e 400 graus centígrados), embora também existam os de médias e baixas temperaturas. Aumentar a porcentagem de geração geotérmica destinada à rede elétrica é um dos objetivos do ICE. Seu presidente, Pedro Pablo Quirós, afirmou ao Terramérica que foram identificados sítios de onde extrair até 800 megawatts no norte do país, desde o vulcão Poás até a fronteira com a Nicarágua.
O problema é que as regiões a serem exploradas estão em parques nacionais, por isso é preciso autorização parlamentar, em estudo na Assembléia Legislativa. As prospecções são muito semelhantes às petrolíferas, com a perfuração de 1,7 quilômetro de profundidade, mas se chegando até aos 3,7 quilômetros. Os críticos do projeto são integrantes das organizações ambientalistas. A presidente da Associação Preservacionista de Flora e Fauna Silvestre (Apreflofas), Angerline Marin, falou ao Terramérica sobre seu “desacordo com qualquer tipo de abertura” dos parques nacionais.
Marin acredita que, abrindo o Parque ao turismo, piorando seu hábitat, o Ministério de Meio Ambiente, Energia e Telecomunicações já demonstrou não ter capacidade para regular “com precaução”. A Apreflofas defende outro tipo de energia, como solar ou eólica, “com menos impacto sobre o meio ambiente”, afirmou. Marin teme repercussões sobre a flora e a fauna, e que os novos projetos elétricos não estejam voltados a cobrir a demanda nacional e sim destinados à exportação. Quirós assegurou que a energia será para a Costa Rica. “Não podemos dizer ao país que deixe de crescer”, afirmou. Para isso são fundamentais os recursos naturais existentes e “regras definidas na proteção do meio ambiente”, acrescentou. O ICE é o que mais dinheiro investe em reflorestamento e tenta “ter projetos amigáveis” com o ambiente, ressaltou Quirós.
Em Miravalles “não havia uma árvore, e hoje está completamente reflorestado”, disse Quirós. “Se não for permitido tocar em fontes naturais, como água ou vapor, só restaria pensar em usinas nucleares”, afirmou. A seu ver, a geotermia reduz a dependência energética de combustíveis importados. Durante a época seca, de dezembro a abril, o ICE consome 90% da fatura nacional de óleo combustível, cerca de US$ 260 milhões, para fazer funcionar suas centrais térmicas. Esse gasto se reduzirá pela metade com a maior participação da geotermia, assegurou Quirós. Outra vantagem é a geração constante, que não depende das condições meteorológicas, como a hidreletricidade, muito pressionada pelas reservas de água nos meses mais secos.
O geólogo Eddy Fernández, especializado em energia geotérmica, diz que é “o complemento ideal” para a hidrelétrica, que atende a aproximadamente 80% da geração nacional. Há riscos de contaminação em caso de vazamento de gases tóxicos, mas existe uma forma segura de operar, reinjetando-os nos veios, disse Fernández ao Terramérica. A América Central pode se destacar pela geração geotérmica, pois fica em pleno Cinturão do Fogo Circum-Pacífico, uma área de alta atividade vulcânica nas costas do Oceano Pacífico, tanto na Ásia quanto na América.
E a Costa Rica deve surgir como líder do desenvolvimento geotérmico do istmo, pois “estamos pesquisando desde o final dos anos 60”, disse Fernández. “A Cordilheira Vulcânica do Norte, em Guanacaste, é a mais propícia, com os vulcões Miravalles, Rincón de la Vieja e Tenorio. Trata-se de zonas rurais onde haveria ajuda “ao seu desenvolvimento, e onde não se incomoda seus habitantes”, assegurou.
(Por Daniel Zueras*, Terramérica / Envolverde, 02/03/2009)
* O autor é correspondente da IPS