Se a constatação do impasse da agricultura produtivista foi feita, a agricultura de amanhã não passa de hesitações. Nos laboratórios, os pesquisadores projetam o que eles chamam de agricultura de alta performance ambiental, que consiste em modificar as técnicas de produção ao combinar a economia, a ecologia e o social. Um colóquio do Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica (INRA) na terça-feira (24) no Salão da Agricultura de Paris, permitiu mostrar o que deveria mudar nos campos e nos estábulos. Uma nova "revolução verde" acontece. Por todo o mundo, a relação com a agronomia está mudando, constata o INRA. "Nós reenriquecemos a biblioteca das ferramentas utilizáveis", resume Marion Guillou, presidente do instituto.
Associar ou rotacionar as culturas. Cultivar em um mesmo campo duas culturas, que se misturam na semeadeira, pode ter diversas vantagens. Associando ao trigo uma leguminosa (ervilha proteaginosa, favas, etc.) que fixe o nitrogênio do ar, é possível reduzir a demanda por adubo nitrogenado. O mecanismo permite diminuir as emissões de gases causadores do efeito estufa e a utilização de energia fóssil. Ele também ajuda as duas plantas a resistirem mais às doenças. Evita-se ou limita-se o recurso aos pesticidas, o que também autoriza a rotação das culturas em um campo de um ano para outro. O efeito é o mesmo quando se cultivam sebes em torno dos pomares, pois os insetos predadores que elas abrigam atacam os pulgões.
Em grandes culturas, os pesquisadores também estudam a possibilidade de se adiar as mudas para reduzir a utilização dos herbicidas. Na viticultura, já se cobre o solo com grama com o mesmo objetivo.
Em todas essas experiências, a produtividade não diminuiu, necessariamente. Mas as paisagens evoluíram.
Mudar a alimentação das vacas. Um dos principais problemas da pecuária são as emissões de gases causadores do efeito estufa, principalmente por causa do aparelho digestivo dos bovinos, produtor de metano. Ele se forma durante a fermentação microbiana dos alimentos no estômago. O gás é jogado de volta à atmosfera pela eructação. O caminho mais rápido para diminuir essas emissões consiste em modificar a alimentação das vacas, adicionando linho à ração, por exemplo. A seleção genética é outra forma, ou ainda transferir para o estômago a flora bacteriana de um outro herbívoro que emite menos metano, o canguru! Mas o procedimento é complexo, seriam necessários anos para saber se isso pode ser aplicado.
Tornar as explorações autônomas. Antes da mecanização e da síntese química, as fazendas funcionavam em circuito quase fechado. Os bois puxavam as carroças e eram alimentados pela produção do camponês. Hoje, as possibilidades são diversas para se ganhar em autonomia. Não arar permite reduzir o consumo de combustível, uma vez que o trator passa menos nos campos, e os carneiros podem fazer o papel de herbicida nos períodos entre culturas.
Também se pode limitar as compras de ração animal fazendo com que eles pastem o máximo possível. Melhor: agrupar os partos para o fim do inverno para se ter a maior parte do gado sendo alimentado em maio, durante o pico da produção de grama. Mas os pesquisadores constataram que essa ideia cria problemas de organização da reprodução. Finalmente, os resíduos das explorações seriam cada vez mais otimizados, como mostra esse trator comercializado na Áustria, que funciona com gás extraído do esterco e outros dejetos animais.
Todas essas possibilidades não se aplicariam somente em países ricos, mas na agricultura industrial em geral, pois nos países pobres a monocultura também se instalou, e sua intensificação causou danos, como nos bananais, por exemplo. No entanto, para os pequenos camponeses que não utilizam produtos químicos, as pesquisas que estão sendo feitas (sobre a rotação das culturas que eles não haviam abandonado, etc.) também poderiam melhorar a produtividade.
É necessário concluir que a agricultura de amanhã será a mesma do passado? Na verdade não, mas é onde ela se inspira. Trata-se mais de uma mistura de redescobertas e inovações. "Certamente há coisas que não devíamos ter esquecido. Mas não associamos mais as mesmas culturas e nós sabemos escolher melhor as variedades para misturar", explica Jean-Marc Meynard, chefe do departamento Ciências para a Ação e o Desenvolvimento do INRA.
Duas questões permanecem.Uma, sobre o tempo que será necessário aos pesquisadores para proporem soluções aplicáveis em larga escala, uma vez que os agricultores estão prontos para mudar as práticas desde agora, contanto que a rentabilidade seja garantida. E a outra, sobre o preço das matérias-primas agrícolas, pois se uma ligeira perda de rendimento não importa muito quando os preços estão baixos, a história é outra quando eles sobem. Os agricultores poderiam, então, estar novamente tentados a intensificar sua produção se utilizando dos produtos químicos.
Uma poluição generalizada das águas
O Serviço de Observação e de Estatística do Ministério da Ecologia, que incorporou o antigo Instituto Francês do Meio Ambiente (IFEN), publicou em janeiro os últimos resultados da contaminação das águas pelos pesticidas. Em 2006, a presença de pesticidas havia sido detectada em 90% das águas de superfície analisadas e em 53% da águas subterrâneas, com níveis diversos de contaminação. Para as águas superficiais, aproximadamente 42% dos pontos de medição têm uma qualidade média para ruim.
Em 12% dos casos, isso pode afetar os equilíbrios ecológicos e tornar essas águas impróprias para o abastecimento como água potável. Cerca de 25% das águas subterrâneas analisadas possuem uma qualidade entre média a ruim. São números estáveis em relação aos anos anteriores.
Mais de 240 substâncias ativas foram detectadas:
- O glifosato, princípio ativo do herbicida Roundup, junto com seu principal produto de degradação, estão presentes em 75% das análises;
- A atrazina, produto proibido em 2003 mas muito persistente, aparece em 50% das amostras.
(Por Laetitia Clavreul, Le Monde, UOL, 27/02/2009)