Um estudo inédito do PNUD realizado na Croácia – o primeiro feito com base em cenários traçados pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) - aponta que, caso as emissões de poluentes continuem crescendo, a temperatura média do país deverá aumentar entre 3 graus e 3,5 graus, já na segunda metade do próximo século. O fato, destaca o relatório, pode afetar setores importantes da economia da Croácia, prejudicando “profundamente” o desenvolvimento do país.
Intitulado Relatório de Desenvolvimento Humano da Croácia 2008 - A Climate for Change: Mudanças climáticas e seus impactos sociais e econômicos na Croácia, o estudo enumera os danos causados pela variação do clima à economia local no século 20. Ele destaca ainda que os impactos deverão aumentar e que setores como saúde pública, agricultura, indústria e turismo serão os mais afetados. Ondas de calor, como a que matou 185 pessoas em 2003 no país, devem ocorrer com mais freqüência.
Segundo o relatório, se já era possível notar enormes diferenças territoriais nos quesitos de emprego, renda, qualidade de vida e oportunidades de desenvolvimento, com o agravamento das mudanças climáticas em determinadas regiões, será cada vez mais difícil para as comunidades pobres se adaptarem aos prejuízos, já que elas dependem diretamente de recursos locais como água e comida, e têm na agricultura seu principal meio de sustento.
Somente entre 2000 e 2007, o aquecimento da temperatura local causou perdas estimadas em 176 milhões de Euros para a agricultura, cerca de 0,6% do PIB nacional. Nos próximos anos, estima-se que a aridez continuará prejudicando os recursos naturais, podendo resultar na interrupção do curso dos rios e na diminuição da incidência de água potável. Nesse cenário, os gastos anuais para suprir as perdas somariam de 17 milhões de Euros a 86 milhões de Euros, gerando efeitos multiplicáveis na economia. A pesca e a cultura marítima, fatores que impulsionam a indústria croata, também estão ameaçadas pela flutuação das populações de peixes, devido à mudança de temperatura da água.
No entanto, existem casos curiosos, como o do turismo. O setor é responsável por 20% do PIB da Croácia e 28,7% dos empregos no país, e pode se beneficiar do prolongamento da temporada turística, do verão até o outono. Mas nem todas as notícias são favoráveis. De acordo com as projeções, a região perderá cada vez mais turistas para os destinos mais frios, devido ao aumento da temperatura no Mar Adriático. Outro fator de risco é o aumento do nível do mar, que se subir mais de 50 centímetros, deve submergir 100 quilômetros quadrados de terra, incluindo a ilha de Krapanj, a região dos rios Neretva, Krka e parte do Lago Vrana, no balneário de Biograd, ainda na segunda metade do século.
Evitando o colapso
Para o representante do PNUD na Croácia, Yuri Afanasiev, apesar de as mudanças climáticas estarem prestes a provocar sérios problemas ao desenvolvimento humano no país, elas também podem trazer diversas oportunidades benéficas; será um desafio vencê-las. O primeiro passo é que o país considere as questões climáticas como fundamentais, envolva especialistas de diversos setores e elabore um planejamento estratégico para reduzir os impactos no meio ambiente.
Durante a apresentação do relatório, o presidente croata, Stjepan Mesic, afirmou que nem mesmo a crise econômica será motivo para colocar o meio ambiente em segundo plano. “Não podemos nos enganar esperando o fim da crise, achando que ‘dias melhores’ para investir contra esse mal estão por vir: esses `dias melhores´ não chegarão. Agora é o tempo e o momento, esse é o desafio que precisamos enfrentar”. Mas nem tudo depende da Croácia. O país precisa cumprir o compromisso, assumido em Quioto, de reduzir a emissão de gases com efeito estufa em 5% até 2012. Mas os resultados mais efetivos só serão alcançados se o índice global for reduzido entre 50% e 85% até 2050.
(Por Redação do Pnud, Envolverde, 26/02/2009)