Desde a semana passada, a Amazônia passou a contar com um novo mecanismo para melhor aproveitar e divulgar os recursos florestais e não-madeireiros da região, os chamados biocosméticos. É a da Rede Amazônica de Pesquisa em Desenvolvimento de Biocosméticos (RedeBio). A rede foi formalizada numa reunião de dirigentes das fundações de amparo à pesquisa do Amazonas, Pará, Maranhão e da Secretaria de Ciência e Tecnologia de Tocantins. O encontro aconteceu em Belém (PA) e ainda contou com a participação de pesquisadores e cientistas com atuação na Amazônia.
A RedeBio contará, nos próximos três anos, com R$ 6,9 milhões para investimentos em pesquisas de produtos da região. Cada fundação (Amazonas, Pará e Maranhão) disporá de R$ 2,1 milhões, e a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Tocantins, R$ 600 mil. Outra instituição, a Embrapa Amazônia Ocidental, também investe em pesquisas para a criação de novos produtos e melhoramento dos já existentes. É o caso, por exemplo, do guaraná. A empresa desenvolveu recentemente cultivares mais produtivas da espécie
Ficou decidido que quatro espécies florestais da Amazônia — a andiroba, a copaíba, a castanha-do-Brasil e o babaçu — são alvos iniciais das pesquisas. Os estudos visam a ampliação da grade de produtos elaborados a partir das matérias-primas dessas espécies. A exemplo da Rede de Pesquisas da Malária, criada em 2008, os idealizadores da RedeBio também vão buscar aporte financeiro por meio de captação de recursos do governo federal. “A RedeBio vai proporcionar a realização de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de produtos consolidando a cadeia produtiva de biocosméticos”, explica o diretor-presidente da Federação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, Odenildo Teixeira Sena.
Conforme levantamento feito por órgãos do governo federal e cujos resultados integram o Plano Amazônia Sustentável (PAS), a região Amazônica possui mais de 10 mil plantas portadoras de princípios ativos para uso medicinal, cosmético e controle biológico de pragas. A região concentra também outras 300 espécies de frutas comestíveis e uma rica fauna silvestre. Ao todo, a Amazônia guarda em suas florestas, várzeas, cerrados e em seus rios, um total de 33 mil espécies de plantas superiores.
Sudam investirá R$ 6 milhões
Além da criação da RedeBio, outra novidade na área de ciência e tecnologia para a Amazônia foi a aprovação de R$ 6 milhões pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) para serem investidos no setor. Provenientes do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia, os recursos são destinados a financiar projetos nos 9 estados da Amazônia. São projetos destinados à promoção da inovação e transformação da ciência em produtos e resultados práticos para a sociedade.
Para Odenildo Sena, a aplicação do recurso é de extrema importância para o fortalecimento de pesquisas na região como um todo. E como forma de atender a todos os Estados da região, alguns deles (o Amazonas, o Pará e o Maranhão) concordaram em receber 10% a menos do valor a que teriam direito no montante de R$ 6 milhões da Sudam para beneficiar os demais estados. Sena explica que essa foi a forma mais viável encontrada para fortalecer algumas áreas que necessitam de maiores investimentos para o custeio de atividades de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia regional.
Em breve será lançado um edital com os critérios de utilização dos recursos. O Amazonas, no entanto, já se antecipou e definiu em quais áreas prioritárias irá investir a parte que terá direito. Além dos biocosméticos, o Amazonas irá investir nas áreas florestal e não-madeireiros, aqüicultura e pesca, bioenergia, alimentos funcionais e biofármacos.
(Por Chico Araújo e Ulysses Varela, Agência Amazônia, Envolverde, 26/02/2009)
* Ulysses Varela é repórter da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam)