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urbanização desordenada
2009-03-02
A integração de espaços públicos com os privados, defendida pelo arquiteto Vilanova Artigas, embora tenha influenciado diversos arquitetos do interior paulista, não se concretiza em muitos casos pelo crescimento desordenado dessas cidades. Essa é a conclusão da tese de doutorado do arquiteto Hélio Hirao apresentada no Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).

O estudo Arquitetura moderna paulista, imaginário social, uso e apropriação do espaço avaliou o desenvolvimento da arquitetura moderna paulista e sua influência na descaracterização do patrimônio histórico, além da influência de Artigas nas construções da região central de Presidente Prudente.

Hirao observou que isso ocorreu de modo mais marcante a partir da década de 1960, porém, esses projetos arquitetônicos foram apenas iniciativas isoladas dentro do rápido processo de urbanização concretizado.

Na proposta de Artigas, a cidade deveria priorizar o pedestre. “As construções e as áreas públicas seriam pensadas como espaços internos privados, uma relação de continuidade entre os edifícios e as pessoas que freqüentam o local”, explica o pesquisador. Um exemplo dessa filosofia, segundo ele, é o prédio da prefeitura de Presidente Prudente. "O espaço entre a calçada e o edifício foi projetado como uma espécie de praça suspensa por onde o pedestre pode transitar."

A pesquisa descobriu que foram construídos vários imóveis com referências do arquiteto. Mas os princípios que nortearam os seus projetos se perderam em meio a diversos fatores como a violência (as pessoas passaram a preferir lugares cada vez mais protegidos), a tendência de apropriação privada dos espaços públicos e a centralidade, com a busca do cidadão por uma moradia mais bem localizada na cidade.

Histórico
Hirao conta que o centro de Presidente Prudente foi projetado inicialmente em um formato de noventa graus. Seus edifícios de características simples ganham importância arquitetônica pelo seu conjunto. As construções, no entanto, não atendem as demandas da cidade moderna.

As casas, por exemplo, foram projetadas com garagem para um carro, insuficiente para atender as necessidades de uma típica família de classe média que em geral tem dois veículos. Para suprir essa carência, é necessário aumentar a estrutura do imóvel. Pela falta de espaço, novos empreendimentos imobiliários, como shoppings centers, foram construídos em outras regiões de Presidente Prudente.

Sem comportar um centro moderno, o município sofreu um processo de segmentação sócio espacial. As classes mais privilegiadas financeiramente migraram para centros privados fechados, como os condomínios residenciais restritos. Enquanto serviços urbanos, como governos, bancos e cartórios, permanecem no centro.

A iniciativa de realizar o estudo surgiu após a divulgação de um artigo do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos, no jornal Folha de S.Paulo, que questionava a substituição das edificações históricas dos centros das cidades médias por uma arquitetura moderna, que destruiria em parte a memória dessas cidades.

“Depois desse artigo, decidimos amadurecer o processo de reflexões sobre a arquitetura e o urbanismo entre os pesquisadores da FCT, pois as cidades são dinâmicas”, diz. Essa arquitetura moderna paulista, defende ele, faz uma releitura da arquitetura simples existente.

Novas pesquisas
Segundo o orientador da pesquisa, o geógrafo Raul Borges Guimarães, do Departamento de Geografia, da FCT, os marcos teóricos do trabalho demonstram um caminho a ser trilhado em outras reflexões – a relação do projeto arquitetônico, o lote urbano e seu entorno no plano da apropriação e uso do espaço urbano.

“Trata-se da possibilidade de planejar a cidade na perspectiva de quem mora nela, aproximando a cidade arquitetada da cidade possível. O trabalho mostra que um bom projeto arquitetônico ganha perenidade e pode se constituir numa referência urbana para um cotidiano cada vez mais fragmentado”, diz.

Artigas
João Batista Vilanova Artigas (1915-1985) nasceu em Curitiba e se formou engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Destacou-se no cenário nacional após produzir obras associadas ao movimento arquitetônico denominado “Escola Paulista” e pela importância que teve na formação de toda geração de arquitetos. Entre os seus projetos na capital paulista destacam-se: Estádio do Morumbi, Edifício Louveira, no bairro do Higienópolis, sede da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e a garagem de barcos do Santa Paula Iate Club.

(Unesp, 25/02/2009)

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