A imaginação dos organizadores de viagens não tem limites. Depois do turismo de lugares em guerra, o turismo sombrio - "dark tourism", dedicado a lugares associados com morte ou destruição, como o Ground Zero, as prisões, os cemitérios ou os campos de concentração - investe no turismo rotulado de "planeta em perigo".
Segundo os profissionais do setor, esse tipo de turismo tem futuro e já vivencia um sucesso crescente. De acordo com Ken Shapiro, redator-chefe da revista especializada americana "TravelAge West" , em declaração à agência de notícias AFP durante a Fitur (Feira Internacional de Turismo) que aconteceu em Madri no fim de janeiro, cada vez mais "as pessoas visitam os lugares que elas acham que vão mudar, e elas querem vê-los antes disso". Para Shapiro, esse "turismo de catástrofes ecológicas", um fenômeno que apareceu há cerca de dois anos, está se tornando um "filão importante" dentro do setor.
Ainda que notem efetivamente um interesse crescente por esse tipo de turismo, os agentes de viagem negam que seja um comportamento novo.
"Não é um fenômeno recente", explica Yannick Briand, diretor-geral da 66º Nord, operadora de Lyon especializada em excursões a terras polares. "Essa conscientização data de uns vinte anos, e apareceu junto com a noção de respeito ao meio ambiente", diz Briand. "Mas hoje aparecem novas motivações: por causa da mudança climática, as geleiras vão derreter e é preciso visitá-las antes que elas desapareçam!", ele admite. Consequentemente, há uma incontestável nova atração pelas terras polares. "Mas", ele relativiza, "o volume de viajantes permanece muito discreto".
A agência 66º Nord leva cerca de mil viajantes por ano para terras polares. A viagem do tipo "planeta em perigo" não é para qualquer um: tanto do ponto de vista financeiro, pois custa em torno de € 3 mil por pessoa para 10 dias, quanto em termos de conforto, uma vez que, apesar do preço, a estadia é quase sempre muito espartana. E até perigosa, como mostrou o naufrágio na península antártica, em 18 de fevereiro, de um navio de cruzeiro cujos 106 passageiros tiveram de ser evacuados. Enfim, essas excursões exigem uma boa condição física.
Circuito dos ursos polares
Na Terres d'Aventure, filial da Voyageurs du Monde (VDM), também se confirma que esse tipo de viagem está na moda. "Há uma marca que funciona bem na Terres d'Aventure: Grand Nord, Grand Large, viagens para as regiões ártica e antártica, há 18 meses", constata Jean-François Rial, proprietário da VDM. Uma demanda que, no entanto, só representa 2.200 clientes por ano. Ele organiza cruzeiros com palestras sobre aquecimento climático, por exemplo, com o famoso glaciólogo francês Claude Lorius.
"Este ano", explica Lionel Habasque, dono da Terres d'Aventure, "vamos refazer o trajeto da expedição de Paul-Émile Victor em antigos barcos de exploração russos". Mas um dos grandes destaques da Terres d'Aventure continua sendo a viagem a Churchill, na baía de Hudson (Canadá): nove dias entre outubro e o início de novembro (€ 4.500) para ver ursos polares. Nessa época, mais de 300 deles ficam parados em cerca de 50 quilômetros entre o cabo e o vilarejo, esperando a formação da banquisa, que lhes permite voltar para seu território de caça.
Mas os ursos polares não são os únicos objetos de todas as atenções.
Na Terres d'Aventures, a floresta amazônica também possui seus fãs. Eles ainda não são muitos, mas pelo menos uma centena desembolsa de € 5 mil a € 6 mil por ano para caminhar no coração da floresta em zonas muito recuadas. "São turistas que nunca largam lixo para trás", observa Habasque.
(Por François Bostnavaron, Le Monde,
Folhaonline, 22/02/2009)