A crise financeira ainda não chegou ao fim e pouco se pode prever sobre o futuro da economia mundial. Entre as diversas opiniões sobre a continuidade ou não do sistema capitalista, é certo, ao menos, que uma nova ordem econômica será necessária e que dela devem fazer parte outra gama de valores, o que inclui mudanças na noção de tempo e de ritmo.
Para Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos e conselheiro do Planeta Sustentável, o fim do neoliberalismo foi decretado no final de 2008 e o novo sistema deve contar com grande participação do Estado – o que soluciona a questão do descolamento entre o mundo financeiro e a economia real, mas pode criar outros impasses relacionados a protecionismo exacerbado, conflitos geopolíticos e até aumento da xenofobia.
De todo modo, a retomada do crescimento da economia depende de inovações e deve se basear em novas riquezas, entre elas as energias renováveis. Pelo menos, é o que os Estados Unidos, país que consome cerca de 40% da energia do mundo, vêm sinalizando com a administração Obama, que tem feito um “esforço de guerra” nesse sentido.
Young diz que outra mudança fundamental será em relação à noção de resultados. Não será mais possível ansiar pelos retornos trimestrais, como as grandes empresas estavam habituadas, eles virão a mais longo prazo. A própria sustentabilidade tem um ritmo bem menos frenético e a implementação da responsabilidade social e a criação de sinergia no diálogo entre os multistakeholders levam tempo para acontecer.
Todos os atores sociais terão de repensar seus papéis nesta nova economia:
Pessoas – no plano individual, cada um deve rediscutir valores, rever seus parâmetros de carreirismo, suas referências de sucesso individual versus desigualdade social, seus padrões de consumo e incluir a solidariedade em suas escolhas, em vez de continuar alimentando um capitalismo predatório.
Empresas – caberá às organizações ir além da discussão sobre ser ou não socialmente responsáveis e começar a verificar de que maneira seus pressupostos de responsabilidade social podem fazer avançar uma nova economia e descobrir como otimizar os impactos de suas ações nessa direção. Um exemplo seria o monitoramento dos recursos transferidos aos governos, com o intuito de garantir que a gestão desse dinheiro seja feita em favor da população.
Sociedade – é papel das partes interessadas e competentes da sociedade elaborar o programa de governo que deve ser colocado em prática, indo além dos saberes de cada partido. Assim, a candidatura não ficaria concentrada em uma pessoa, mas em um plano de governo, e seria escolhido o político com mais competência para atuar da maneira pretendida pelo coletivo. Cabe à sociedade refletir de que maneira se organizar para a criação de programas que visem ao desenvolvimento sustentável e tenham força e legitimidade. “A nova economia não será feita só pelo governo, que deve participar de acordo com o que for determinado pela sociedade”, afirma Ricardo Young.
(Por Thays Prado,
Planeta Sustentável, 19/02/2009)