Lideranças indígenas tradicionais da região sul de Mato Grosso do Sul afirmam que o grupo de índios que acampa há 24 dias em frente ao escritório da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Dourados (MS) defende interesses de não-índios. Segundo eles, os cerca de 40 manifestantes que pedem a saída de Margarida Nicoletti da chefia da Funai na cidade querem tumultuar o processo de demarcação de terras indígenas iniciado em julho do ano passado.
De acordo com Anastácio Peralta, índio guarani-kaiowá e membro da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), Margarida foi a primeira administradora regional da Funai de Dourados que se comprometeu a ampliar as terras indígenas da região. Foi em sua gestão que a Funai firmou um compromisso com a Procuradoria da República de demarcar áreas de ocupação tradicional das etnias guarani-kaiowá e guarani-nhandeva - fato que foi alvo de críticas de entidades que representam os produtores rurais e também de políticos sul-mato-grossenses.
“Eles [os manifestantes] articularam o protesto com políticos contra a demarcação”, afirmou Peralta, em entrevista à Agência Brasil. “Eles dizem que querem melhorar as cestas, facilitar a retirada de documentos, mas isso é um projeto sério? Índio precisa é de mais terras.”
O cacique guarani-kaiowá Getúlio Juca de Oliveira também acredita em articulação política dos manifestantes. “Eles são muito poucos, não representam a maioria. Os políticos combinaram com alguns, que combinaram com outros, e eles foram para lá.”
Em comunicado enviado à imprensa, o Comitê Indigenista Missionário (Cimi) de Dourados afirma que os protestos pela saída de Margarida representam “interesses políticos dos não-índios que querem prejudicar a atual administração [da Funai]”.
Hoje, em entrevista à Agência Brasil, Dirce Veron, uma das líderes da manifestação, afirmou que as acusações contra o protesto querem “mudar o foco real da discussão”. Filha do cacique kaiowá Marcos Veron, assassinado em 2003 durante conflitos por terra, ela disse que nenhum dos manifestantes acampados deseja barrar a ampliação das terras indígenas do sul do estado.
“Meu pai morreu pela terra. Você acha que não quero mais terras para nosso povo também?”, disse. “Eu só não concordo com a forma que a Funai está querendo demarcar essas áreas. Não quero mais ver índios morrendo por causa terra na região.”
Sobre uma suposta influência política no protesto, a índia Beth Moreira, que foi candidata a vereadora de Dourados pelo partido Democratas, afirmou que a suspeita não tem fundamento. Ela disse que os manisfestantes são representantes de suas comunidades e a única ajuda de não-índios que o protesto recebeu foi da população que prestou solidariedade por meio de doação de alimentos.
(Por Vinicius Konchinski,
Agência Brasil, 19/02/2009)