O programa BioTA África, que em 2009 dará início à sua quarta fase, deverá ser estendido para Angola, e pesquisadores ligados ao programa Biota-Fapesp poderão ter um papel central na articulação necessária para essa integração.
Nas três últimas semanas de janeiro, Marcos Aidar, pesquisador da Seção de Fisiologia e Bioquímica do Instituto de Botânica de São Paulo, representou o Biota-Fapesp em uma expedição a Angola, cujo objetivo foi treinar alunos da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, para iniciar o processo de levantamento da biodiversidade em território angolano.
De acordo com Aidar, a expedição, que também incluiu a Namíbia e envolveu visitas a diversos ecossistemas angolanos, teve a participação de pesquisadores do Instituto Nacional da Biodiversidade da África do Sul (Sanbi, na sigla em inglês), da Escola Politécnica da Namíbia e do BioTA África.
O BioTA África, apoiado pelo Ministério da Educação e da Pesquisa da Alemanha (BMBF, na sigla em alemão), reúne mais de 400 pesquisadores de instituições africanas e alemãs que atuam em conjunto, em uma rede multidisciplinar e integrada, em atividades espalhadas pelo continente. Na região meridional, o programa atuava, até agora, na África do Sul e na Namíbia.
“O interesse na participação brasileira é que, além de transmitir parte da experiência acumulada pelo Biota-Fapesp, também possamos entrar no processo de extensão do programa africano a Angola, participando da articulação entre alemães, sul-africanos e angolanos”, disse Aidar à Agência Fapesp.
Aidar conta que sua participação na expedição deu continuidade aos primeiros contatos entre os dois programas Biota, feitos em outubro de 2008 por Carlos Alfredo Joly, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos criadores e ex-coordenador do programa Biota-FAPESP, durante o Congresso Internacional de Biodiversidade na África, na Cidade do Cabo, África do Sul.
“Como o Biota-Fapesp é um programa de referência em termos mundiais, o professor Joly foi convidado, durante o congresso, a participar da expedição e me passou essa atribuição. Essa relação contribuirá para promover a internacionalização do programa”, disse Aidar.
Saindo da Namíbia com a equipe do BioTA África em dois carros, Aidar viajou até Lubango, em Angola, onde o grupo se integrou a uma expedição com cerca de 40 pesquisadores da África do Sul e da Namíbia provenientes de diversas regiões.
A expedição, intitulada “Projeto de construção da capacidade de avaliação da biodiversidade angolana”, foi organizada pelo Sanbi e pelo Instituto Superior de Ciências de Educação de Lubango.
“Ali, acampamos por quase uma semana e participamos de um treinamento com estudantes. Atuei bastante como tradutor científico e fiz diversos contatos com pesquisadores do Sanbi, do BioTA África e de instituições da Namíbia, que nos deram uma idéia clara do tipo de participação que os brasileiros poderão ter na integração de Angola ao programa”, contou Aidar.
Saindo de Lubango, o grupo fez uma visita ao Parque Nacional de Iona, na província de Namibe, ao sul de Angola – uma região na qual a vegetação transita entre savana e deserto. “A viagem foi proveitosa especialmente do ponto de vista da política científica. Foi gerado um cenário adequado para que o Biota-Fapesp possa interagir com esses parceiros africanos”, explicou.
Formação de pesquisadores
Segundo Aidar, a avaliação dos primeiros oito anos do BioTA África está sendo concluída e as discussões em torno das abordagens e prioridades para a próxima fase do programa irão considerar a participação brasileira. O Biota-Fapesp, conta, deverá priorizar essa colaboração no decorrer do ano.
“Do nosso lado, vamos agora partir para um trabalho interno, sondando pesquisadores que tenham interesse em ir à África. Sabemos que há vários já em Angola e que, portanto, existe uma considerável colaboração em nível individual. A proposta é institucionalizar essa cooperação por meio do Biota-Fapesp”, disse.
Uma das prováveis contribuições brasileiras, segundo Aidar, poderá ser a formação de recursos humanos. “Ao contrário do que ocorre na África do Sul, que é muito forte em termos de capacitação de pessoal, Angola tem grandes dificuldades nesse sentido. Os cientistas de São Paulo podem dar uma imensa contribuição – tanto em biodiversidade como em outras áreas educacionais”, afirmou.
A inclusão de Angola no BioTA África, segundo Aidar, foi priorizada também porque o conhecimento sobre a biodiversidade local, atualmente, é bastante precário, principalmente em consequência dos mais de 40 anos de guerra civil que devastaram o país.
“A guerra gerou um passivo ambiental muito grande e muita coisa foi destruída. Com exceção de uma grande coleção de aves, praticamente todos os registros existentes foram perdidos. Hoje, se conhece pouquíssimo sobre o país”, disse.
De acordo com Aidar, a experiência ampla e inovadora do Biota-Fapesp em levantamento da biodiversidade deverá ser de grande utilidade não apenas em Angola – onde deverá se concentrar inicialmente a atuação brasileira –, mas para todo o BioTA África.
Em contrapartida, o programa estará consolidando sua internacionalização. “É importante poder reproduzir o modelo do Biota-Fapesp em outros países. A internacionalização do programa fortalece nossa abordagem”, destacou.
(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 20/02/2009)