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reflorestamento protocolo de kyoto passivos de hidrelétricas
2009-02-19

A Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq) da USP possui um acordo com a AES Eletropaulo, empresa que opera dez usinas hidrelétricas no Estado de São Paulo, para orientar a execução do reflorestamento de aproximadamente 10 mil hectares de áreas protegidas no entorno das represas.  

Pelo acordo, firmado em setembro do ano passado, a Esalq dará suporte técnico-científico a todas as etapas da implantação do projeto, desde a seleção das sementes até o acompanhamento do crescimento da vegetação, e também auxiliará na quantificação do carbono sequestrado pelas florestas. A AES Eletropaulo utilizará esses dados para a obtenção e venda de Certificados de Emissão Reduzida, conforme prevê o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto.

Paulo Kageyama, professor da Esalq que coordena as ações da Esalq dentro da parceria, conta que nesses primeiros meses foram feitas diversas reuniões para detalhar a realização do projeto e iniciou-se a implantação das parcelas permanentes - áreas de floresta delimitadas que são usadas como amostragem para a realização de estudos.

Para o professor, o acordo traz grandes benefícios à escola ao permitir o treinamento de alunos (até o momento, estão envolvidos quatro estudantes graduação e dois de pós-graduação) e a realização de pesquisas dentro de um projeto pioneiro. De acordo com Kageyama, trata-se do primeiro projeto aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU), dentro do MDL, para a venda de créditos de carbono obtidos com o plantio de uma floresta autossustentável, isto é, que continuará existindo sem a necessidade de ação humana. “Até então, os projetos aprovados no âmbito do MDL eram todos para florestas homogêneas, de produção”. 

Sequestro de carbono
Para fazer a medição da quantidade de carbono que a floresta retira da atmosfera, os pesquisadores levam em conta que espécies diferentes de árvore retêm quantidades diferentes de carbono durante seu crescimento. “Estamos desenvolvendo equações para dizer quanto de carbono cada espécie sequestra”, explica Kageyama. A partir desse conhecimento, é possível estimar, a partir da idade, altura, diâmetro e outras medidas de uma árvore particular, o quanto de carbono ela reteve. Cruzando esses dados, que são colhidos nas parcelas permanentes, com informações sobre a área plantada, obtidas através de técnicas de sensoriamento remoto (como imagens de satélite), os pesquisadores calculam o sequestro realizado pela floresta inteira.

O engenheiro florestal Eduardo Gusson, que comanda as atividades de campo da parceria, explica que a equipe da Esalq irá propor formas de melhorar a implantação da floresta, pensando não somente no aumento da retenção de carbono, mas também na restauração da biodiversidade dos locais. Ele diz que não é possível restabelecer a biodiversidade original das áreas, mas afirma que em aproximadamente seis anos após o replantio a área já conta com uma “estrutura florestal boa”.

Gusson explica que para maximizar a retenção de carbono pela área reflorestada são utilizadas, basicamente, duas técnicas. A primeira é a alteração da composição de espécies, privilegiando o plantio das que apresentam um crescimento inicial mais rápido - ou seja, com um maior potencial de sequestro de carbono em curto prazo, alteração que é limitada pela necessidade de recriar o mais fielmente possível a distribuição de espécies original do bioma. As outras ações que maximizam a retenção do carbono estão relacionadas ao manejo silvicultural: controle de pragas e adubação das florestas, por exemplo. Enfim, medidas que garantam que as árvores cresçam o máximo, impedindo que “fatores de degradação” atuem sobre elas.

Os pesquisadores da Esalq já pensam em mudar algumas práticas adotadas pela empresa, que iniciou seu projeto de reflorestamento em 2001. “O plantio de mudas é feito no final do ano. Nossa proposta é que essa atividade seja contínua”, explica Gusson. Outras sugestões que podem ser implantadas são a irrigação com gel, que economiza água, e a utilização de fertilizantes.

Viveiros sociais
As mudas serão cultivadas principalmente no viveiro mantido pela AES Eletropaulo em Promissão, no interior de São Paulo. Mas como a quantidade de mudas produzidas ali não é suficiente para atender a demanda do projeto, o acordo prevê que seja fornecido treinamento e infraestrutura para a criação dos chamados “viveiros sociais” pelas populações locais.

Segundo Paulo Kageyama, já estão quase concluídas as negociações para a criação de outro viveiro na região de Promissão, que será administrado por um grupo de agricultores de um assentamento rural. “Nós ficamos encarregados de treinar essas comunidades a coletar sementes e criar mudas adequadamente”, explica o professor.

Gusson diz que também são objetivos dos “viveiros sociais” que esses agricultores utilizem a produção para adequar suas terras ao código florestal, que prevê a preservação de parte das propriedades rurais, e supram a demanda por mudas do mercado, que é muito alta.

(Por Rodolfo Blancato, USP Online, 18/02/2009)


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