Propriedades rurais da Gold Coast e demais regiões da Austrália poderão ser requisitadas em breve a providenciar bunkers, uma espécie de construções seguras subterrâneas para proteger residentes contra possíveis focos de incêndios florestais. A idéia dos depósitos subterrâneos foi apresentada nesta última terça-feira (17/02) durante reunião de planejamento da cidade em resposta ao desastre ocorrido recentemente no Estado de Victoria, no sul do País.
Os conselheiros estão finalizando a nova estratégia contra os incêndios e têm enfatizado que mais pode ser feito para proteger os residentes da Gold Coast, especialialmente aqueles que vivem em áreas rurais isoladas, informou Greg Betts, conselheiro de Burleigh Heads. "Eu penso que nós devemos olhar para todas as opções e uma delas seria a construção de quartos seguros em áreas de alto risco para incêndios florestais", disse Betts.
De acordo com ele, faz-se necessário que, como parte do código técnico de edificação da cidade, o município exija àqueles proprietários incluir uma edificação segura em suas propriedades.
A conselheira Chris Robbins de Coolangatta, que representa os residentes que vivem nos vales de Currumbin e de Tallebudgera, disse que gostaria de ver qual a estratégia que a cidade tem para se prevenir destes desastres. "Há conscenso no povo sobre incêndios florestais e sobre o que nós temos para tratar um evento tão sério como este", disse.
A possibilidade das alterações climáticas aumentarem a incidência de eventos como estes têm colocado em alerta autoridades de todo o País. Isso porque muitos moradores morreram carbonizados dentro de seus carros, quando tentavam fugir às pressas de suas propriedades em chamas.
De acordo com o coordenador dos serviços de emergência do Estado de Victoria, Bruce Esplin, o pior desastre natural presenciado pela nação em sua história serviu para preparar o País para problemas futuros. "Agora sabemos que haverá caos se mais de 500 mil pessoas tiverem que fugir por estradas rurais estreitas", disse.
Ele conta que desde o último sábado tem conversado com o proprietário de um bunker subterrâneo que sobreviveu aos incêndios florestais ocorridos perto de Melbourne "e que talvez esta idéia seja algo que as pessoas terão que considerar daqui para frente". "Os climatologistas irão dizer a vocês que este tipo de evento climático que nós experimentamos nos últimos dias se tornará mais e mais frequente", disse.
Incêndios florestais são comuns no País e ocorrem anualmente, mas esta foi a primeira vez que as pessoas tiverem que sair em massa de suas casas. "Na maioria das vezes este é um lugar bonito de se estar" (...) "mas em ocasiões raras transforma-se num lugar horroroso de estar, e naquelas situações você não tem muito tempo para pensar e a decisão que você faz pode literalmente custar a sua vida", lembrou.
A parlamentar Fran Bailey, do Partido Liberal da Austrália, afirma que os depósitos subterrâneos podem precisar ser construídos primeiro em escolas para manter as crianças seguras. "Imagine se esse fogo tivesse acontecido na quarta-feira precedente (quando as crianças estavam na escola) e não no sábado" disse ela a TV ABC. "Todas aquelas escolas que foram destruidas nesse fogo… é demasiado horrível pensar no que poderia ter ocorrido", disse ela, acrescentando que "quando nós reconstruirmos estas escolas, teremos que ter certeza sobre o projeto do edifício. Precisamos certificar-nos de que aquelas escolas são realmente seguras para nossas crianças", completou.
Um milhão de animais mortos
Além de provocar a morte de pelo menos 200 pessoas, os incêndios que atingiram o sul da Austrália causaram uma grande devastação na fauna e na flora da região. Segundo o Resgate de Vida Selvagem do estado de Victoria, estima-se que pelo menos um milhão de animais morreram na tragédia. Entre as vítimas estavam animais de criação, como ovelhas, gado e cavalos, de estimação, como cães e gatos, e espécies nativas, como répteis, cangurus, coalas, gambás, wombats e equidnas.
Os serviços de emergência conseguiram resgatar alguns animais, muitos deles feridos e com queimaduras. Aqueles com fraturas mais graves e praticamente incuráveis foram abatidos, segundo o grupo de resgate de Victoria. "Só vamos realmente saber a dimensão dos estragos na vida selvagem quando conseguirmos acesso a todas as áreas atingidas", disse Fiona Corked, do Resgate de Vida Selvagem de Victoria. "Em alguns momentos, a força do fogo foi tão devastadora que mesmo cangurus (que podem chegar a velocidade de 60 quilômetros por hora), não conseguiram escapar correndo", disse o serviço de emergência de Victoria ao jornal The Times.
Situação atual
Os bombeiros australianos ainda concentraram suas forças para lutar contra dois grandes incêndios no estado de Victoria. As chamas já mataram mais de 200 pessoas, deixaram cerca de 1.800 casas queimadas e 7 mil pessoas desabrigadas.
O incêndio de Wilsons Promontory, um parque natural a cerca de 220 quilômetros do sudeste de Melbourne, já destruiu 12 mil hectares de floresta. Outro incêndio, mais perigoso, é o de Kilmore-Murrindindi, a cerca de 100 quilômetros de Melbourne, e que, a exemplo de Wilsons Promontory, também pode atingir áreas de armazenamento de água, o que complicaria a provisão a outras cidades.
Segundo o Governo, o número de vítimas não deve se elevar muito em relação aos 200 mortos já anunciados, já que desaparecidos também foram incluídos nessa estimativa. O Governo australiano convocou um dia de luto para o próximo domingo, que incluirá uma cerimônia em memória das vítimas no Rod Laver Arena de Melbourne, com a presença de autoridades de todo o mundo. A princesa Anne da Inglaterra confirmou sua presença e também visitará os povoados mais afetados pelos incêndios.
Doações
Estrelas australianas, como a atriz Nicole Kidman e o marido, o cantor Keith Urban, iniciaram uma campanha de ajuda às vítimas. O casal doou 327.000 dólares aos desabrigados. Na semana passada, atores e atletas australianos participaram de um programa de TV que arrecadou 20 milhões de dólares australianos em promessas de doações. Entre os participantes estavam as estrelas de cinema Russell Crowe, Hugh Jackman, Naomi Watts, Rachel Griffiths e Simon Baker, que enviaram mensagens gravadas nos Estados Unidos.
Inundações
No estado de Nova Gales do Sul, também no sudeste do país, as autoridades continuam a lidar com o problema das inundações. As fortes chuvas que atingem o estado provocaram inundações que mantém isoladas cerca de quatro mil pessoas. De acordo com a agência Reuters, o governador deste estado, Nathan Rees, equaciona decretar o estado de calamidade pública. As águas do rio Bellingen subiram mais de oito metros, isolando as localidades de Bellingen, Darkwood e Thora.
(Por Tatiana Feldens, Ambiente JÁ, com informações de agências internacionais, 19/02/2009)