Uma nova termelétrica alimentada a carvão é construída a cada semana na China, que se consolida como o maior poluidor mundial. Especialistas afirmam ser vital que o gigante asiático limite suas emissões de dióxido de carbono (CO2), pois se não o fizer, todos os esforços realizados pelo resto do planeta para mitigar os efeitos das mudanças climáticas serão irrelevantes. Por isso que o apoio e a tecnologia do ocidente são tão importantes para frear a poluição chinesa.
Para alcançar esse objetivo foi realizada na semana passada em Nottingham, na Inglaterra, uma conferência reunindo cientistas de todo o mundo, que avaliaram os resultados de projetos de intercâmbio como o COACH (Cooperation Action within Carbon Capture and Storage China-EU) e o NZEC (Near Zero Emissions from Coal). Também foram traçadas estratégias para o futuro, e, ao que parece, a aposta são mesmo os projetos de captura e armazenamento de carbono (CCS).
A tecnologia de CCS foi desenvolvida para capturar as emissões de CO2 lançadas por indústrias ou usinas de geração de energia e armazená-las em locais isolados, como antigos reservatórios de petróleo ou gás ou em rochas porosas, evitando que as emissões cheguem à atmosfera.
“Uma quantidade enorme de termelétricas está sendo construídas na China, o que deixa claro que o país está comprometido com o carvão por várias décadas ainda”, conta Jonathan Pearce, da Sociedade Britânica de Geologia (BGS), que sediou a reunião. “O CCS seria uma das melhores maneiras de ajudar a China a reduzir emissões”.
Um dos benefícios de se bombear CO2 para o fundo de poços seria a possibilidade de se voltar a explorar o petróleo que teria sido abandonado no local. Cientistas chineses e europeus estão pesquisando dois dos maiores campos de petróleo do país, para descobrir não só quanto C02 pode ser armazenado, mas também que quantidade de combustível ainda pode ser retirada.
Os campos de petróleo a princípio ofereceriam uma capacidade limitada para armazenamento, por isso os cientistas estão analisando os aqüíferos salinos. “Apenas numa região ao norte de Pequim, os aqüíferos oferecem espaço para o armazenamento de 70 a 700 gigatoneladas de CO2. É certo dizer que qualquer projeto em larga escala de CCS na China, assim como na Europa, deve utilizar os aqüíferos”, afirma Pearce.
Segundo o Departamento de Energia e Mudanças Climáticas britânico, a Inglaterra já teria investido mais de £ 3 bilhões no desenvolvimento e pesquisa de projetos de CCS na China, tecnologia que os ingleses consideram fundamental para o próprio futuro.
Economia em primeiro lugar
A primeira viagem oficial de Hillary Clinton como Secretária de Estado dos EUA, que teve início nesta segunda-feira, é justamente para a Ásia, com destaque para a passagem na China. O foco deve ser econômico devido à crise mundial, porém o problema das mudanças climáticas também estará em pauta.
O embaixador chinês junto a ONU no contexto de mudanças climáticas, Zhou Wenzhong, destacou que China e Estados Unidos, os dois maiores poluentes do planeta, tirariam vantagens se trabalhassem juntos e dessem o exemplo, antes da Conferência Internacional de Copenhague, prevista para o fim do ano.
"China e EUA têm interesses comuns e grandes campos de cooperação no que diz respeito à energia e ao aquecimento global. Os norte-americanos deveriam oferecer suas tecnologias avançadas e sua experiência na eficácia energética e nas energias limpas", concluiu o embaixador.
Em meio a questões delicadas como os debates de liberdade de expressão e direitos humanos, o governo chinês deve mesmo insistir na discussão do problema climático, que é comum aos dois países. Mas Hillary não deve ser tão facilmente atraída para o assunto, uma vez que a economia norte-americana está atravessando uma forte recessão, e a questão da balança comercial entre os dois gigantes, que foi desfavorável em cerca de US$ 266 bilhões em 2008 para os EUA, deve ser o principal assunto do encontro.
(Carbono Brasil, 17/02/2009)