(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
coleta seletiva política nacional de resíduos
2009-02-18

As 9h30 da manhã, a velha kombi de Agenor Bernazzi já está quase lotada com jornais cuidadosamente dobrados em seu interior e sacos plásticos pretos recheados de latinhas vazias no bagageiro. Logo ele seguirá para o depósito de recicláveis no centro da capital paulista, onde deixará os materiais, sem certeza de remuneração. Morador de Pirituba, bairro periférico paulistano, diariamente ele percorre bairros da classe média onde teceu sua rede de fornecedores de papéis e metais, sobretudo em prédios residenciais. Um sucateiro, é seu comprador, sempre.

"Comecei há 12 anos, pagando R$ 0,15 pelo quilo de papel e R$ 0,70 pelo litro de gasolina. Um ano atrás, o papel foi para mais de R$ 0,30. Depois caiu para R$ 0,20, R$ 0,12, e agora R$ 0,05. Não consigo pagar mais de R$ 0,03 por quilo. Receberei uns R$ 60 nessa viagem, se o depósito conseguir repassar. Tem muitos ferros velhos fechando. Continuo para não deixar na mão quem me telefona".

O lamento de "seu" Agenor repete-se pelos elos formais ou informais da cadeia da reciclagem de materiais como plásticos, papéis, metais e vidros. Segundo Roberto Laureano, do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), que tem cerca de 35 mil catadores cadastrados, a desistência dos informais fez crescer a quantia de materiais que chegam às cooperativas de catadores. O trabalho se avoluma, mas a renda cai. É o caso de Santos (SP), onde cooperados têm retirado apenas R$ 200 pelo mês de trabalho.

Representante da Cata Sampa, rede de 22 cooperativas da grande São Paulo, litoral e interior paulista, ele conta que a rede nasceu num momento ascendente em 2006, com R$ 3 milhões da Petrobras e R$ 600 mil do Real ABN Amro, para aplicação em três anos. Investimentos em logística, divulgação e capacitação, entre outros, melhoraram a quantidade, qualidade e constância do fornecimento, agregando valor ao produto. Com a queda dos preços, o sonho da sustentabilidade acabou. "Temos de buscar novas parcerias."

Por que enterrar nos lixões e aterros materiais que são matéria-prima e geram renda? pergunta, ao defender a remuneração dos catadores como um braço de limpeza pública, hoje realizando a coleta gratuita. Alguns municípios, como Londrina (PR), já fazem isso, ao citar a existência de 800 mil catadores no país, de acordo com um estudo de 2006, da Universidade Federal da Bahia. Laureano também aposta na responsabilidade das indústrias fabricantes dos materiais virgens, como ocorre na Alemanha.

Os recicláveis ganharam status de matéria-prima industrial, mas a ineficiência da coleta seletiva contribui para que, mesmo com a queda da atividade industrial, ainda faltem insumos reciclados para processar, rebate Nelson Pereira dos Reis, diretor de meio ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Entre os problemas, ele ressalta a baixa qualidade e fornecimento irregular.

Outro gargalo, segundo ele, está leis estaduais e municipais, às vezes imprecisas, ou restritivas demais. Elas prosperaram devido à falta de uma política nacional de resíduos sólidos, em discussão no Congresso Nacional. Nessa discussão, a indústria prega a co-responsabilidade, como uma das parceiras da logística reversa.

A demanda maior por recicláveis que a oferta contribuiu para a disparada de preços até o segundo semestre de 2008, diz André Vilhena, diretor-executivo do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), que reúne grandes empresas de diferentes setores. Atrelados ao consumo das commodities, os valores despencaram quando começou a crise financeira internacional. Sem capital de giro, muitas cooperativas vivem dificuldades. "Isso contribuirá para um amadurecimento do setor."

Nas Centrais de Triagem da Prefeitura de São Paulo, onde atuam 15 cooperativas, volumes gigantes de resíduos se acumulam. De 1,8 mil cooperados, só não desistiram cerca de 650, informa Joceli Adair da Silva, assessor técnico da Secretaria das Subprefeituras. O município, que gasta R$ 11 milhões mensais nessa estrutura, discute novas estratégias com Fiesp, Grupo Pão de Açúcar e Secretaria do Trabalho, que incluam bolsas trabalho por seis meses, para quem atuar nas centrais.

Baseadas em dados de 2007, as estatísticas do setor ainda espelham a curva ascendente. Informam que o setor papeleiro, campeão da coleta nas cooperativas, reciclou o equivalente a 45% do papel consumido no país, segundo a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). Mais de dois terços (67%) foram papelão ondulado, recorde comemorado pela Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO).

A importação foi a saída o setor do alumínio para conter a disparada de preços das latinhas, cuja reciclagem atingiu o patamar de 95% coletados, informa a Associação Brasileira do Alumínio (Abal). No mesmo período, o Instituto Sócio-ambiental do Plástico (Plasvida) registrou a reciclagem de 962,5 mil toneladas de plásticos, correspondente a 20% da resina virgem gerada no país. As 780 empresas recicladoras, identificadas em pesquisa encomendada à MaxiQuim, faturaram R$ 1,8 bilhão no ano. Mas, a ociosidade foi de 40%, por falta de mais plásticos.

Vidros são o único insumo cujo preço não caiu e cuja reciclagem ficará no índice de 47%, diz Stefan David, consultor de reciclagem da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro). Segundo ele, o forte reuso, inclusive de embalagens one way pelo mercado informal de bebidas, motiva o não-crescimento. "Poderíamos absorver 60% mais."

Pouco mais de 7% dos municípios brasileiros operam programas de coleta seletiva, informa o Cempre. Quase metade (49%) adota o modelo porta-a-porta, e mais de um quarto (26%) o sistema de postos para a entrega voluntária de recicláveis. Cerca de 43% atuam em parceria com cooperativas de catadores. Em 2007, o custo médio, de US$ 221 a tonelada, representou cinco vezes o da coleta convencional.

Sem a caracterização prévia do que e quanto é gerado, é impossível tornar mais eficiente a atividade, critica Maria Teresa Mariano Miguel, coordenadora da pós-graduação em gestão ambiental da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Poços de Caldas (MG). Segundo ela, além dos estudos locacionais dos resíduos, falta suporte técnico de órgãos ambientais às prefeituras.

O país vive os problemas sociais e ambientais decorrentes de um caminho incompleto, avalia Silvano Silvério, diretor do departamento de ambiente urbano do Ministério do Meio Ambiente. De um lado, a coleta lixo já atende 96,7% dos domicílios brasileiros segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Só que só 13% dos municípios têm os desejáveis aterros sanitários. O restante divide-se na solução intermediária dos aterros controlados (19%) e os problemáticos depósitos a céu aberto, ou lixões, única opção existente em quase dois terços dos municípios brasileiros (59%). Em muitos municípios pequenos, onde o problema é mais comum, aterros sanitários construídos com recursos da União foram abandonados, pelo alto custo da operação. "Em Goiás, um estudo concluiu que todos os 107 instalados no final dos anos 1990 regrediram para lixões."

A constatação motivou uma nova postura do Ministério do Meio Ambiente de apoiar a formação de consórcios intermunicipais para a gestão integrada de resíduos sólidos. Além de aterros sanitários compartilhados entre os municípios, a recomendação é instalar galpões para triagem e recepção de entulhos e unidades de compostagem. Segundo Silvério, R$ 83 milhões foram destinados para implantar 330 unidades intermunicipais, abrangendo 160 municípios em 14 Estados, sete dos quais no Nordeste e três no Norte. "A operação dos aterros poderá ser licitada", lembrando que, no caso de contratação de cooperativas de catadores, a Lei Nacional do Saneamento (Lei 11.445/07) permite a dispensa de licitação.

Segundo especialistas, cerca de 100 aterros brasileiros poderiam se beneficiar do mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), previsto no Protocolo de Quioto, que permite a venda de créditos de carbono em troca da redução de emissões do metano, gás 21 vezes mais danoso ao aquecimento global que o dióxido de carbono. Silvério avisa que o país já tem 29 projetos de MDL aprovados. Somados, podem evitar a emissão de 10 milhões toneladas anuais de carbono equivalente.

Autora de estudo sobre o tema na Universidade Federal do Paraná, a engenheira Adriana Carneiro Duarte lamenta que a maior parte dos projetos aprovados tenham optado pelo procedimento mais barato e menos eficiente, que é a captura e queima controlada do metano. É o caso do aterro Nova Gerar, de Nova Iguaçu (RJ), primeiro projeto desse segmento aprovado no mundo, que começou apenas com a queima controlada do biogás.

A Região Metropolitana de São Paulo conta com dois aterros com usinas termelétricas movidas com o metano do lixo. O Aterro Bandeirantes, em Perus (SP), implantado pelo consórcio Biogás Energia Ambiental com apoio do Banco Mundial, e o Aterro São João, na zona leste paulistana. A promessa é deixar de lançar 11 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera. Outro exemplo interessante, segundo a pesquisadora, é o aterro Sasa, de Tremembé (SP), gerenciado pela Onyx, que prevê gerar cerca de 490,4 mil toneladas de gás carbônico durante a implementação do projeto.

(Por Silvia Czapski, Valor Econômico, 18/02/2009)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -