Foi nos anos 80, no acampamento da Fazenda Annoni, em Sarandi, que nasceu o projeto do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de montar um currículo escolar próprio. O cerne da proposta era ensinar ao acampado como não se tornar novamente um sem-terra quando fosse assentado.
Houve mais de um ano de debate interno até o projeto tomar forma. As discussões foram acaloradas. Existiam duas linhas: uma defendia o uso de meios alternativos de produção e o sistema de cooperativas para relacionar-se com o mercado. A outra linha, que tinha como apoiador João Pedro Stedile, um dos fundadores do MST e atual esteio político da organização, queria uma educação que rompesse com o sistema capitalista. Stedile venceu. O passo seguinte foi a montagem de cursos para professores de assentamentos e acampamentos.
O avanço do projeto educacional contou com o apoio do governo. Sempre houve uma grande dificuldade do Piratini em conseguir enviar professores para assentamentos e acampamentos. O MST tinha os professores. Daí foram realizados vários convênios. Entre eles, o que resultou na Escola Itinerante, num entendimento entre o Departamento Pedagógico da Secretaria da Educação (Divisão de Ensino Fundamental) e o Setor de Educação do movimento.
Para o governo, uma experiência. Para os sem-terra, a chance de vender a ideia de rompimento com o sistema capitalista. Para as crianças acampadas, a oportunidade de não ficar longe dos livros nas longas jornadas debaixo das lonas à beira das estradas à espera da reforma agrária.
Tudo é simples na Itinerante. Funciona debaixo de uma lona, os alunos se sentam no chão ou em velhas cadeiras. Usam material escolar doado pela comunidade. Geralmente, o professor é um acampado ou de um assentamento das proximidades. A extinção das unidades tem raízes em uma briga ideológica entre o MST e as autoridades. Os alunos dos acampamentos são vítimas no meio desse fogo cruzado.
(Zero Hora, 18/02/2009)