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mamíferos terrestres extinção de espécies parque estadual da serra do tabuleiro
2009-02-18

O Leopardus tigrinus é um felino especial. Não é necessariamente mais bonito, nem mais esperto do que um gato doméstico. É pequeno. Não ultrapassa os 85 centímetros de comprimento e dificilmente pesa mais do que três quilos. Conhecido como gato-do-mato-pequeno, vive em ambiente de cobertura vegetal densa e está presente na maioria dos ecossistemas brasileiros, desde a Floresta Amazônica até os Pampas Gaúchos. Em Santa Catarina, o animal fez da restinga no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro o seu lar.

Ameaçada de extinção devido à captura ilegal e à comercialização de peles no país, a espécie sofre agora com uma nova ameaça em SC: o Projeto de Lei nº 347.3/08, que prevê a criação do Mosaico de Unidades de Conservação da Serra do Tabuleiro. “As pessoas dizem que vão construir, mas sem prejudicar. Para o gato não serve, ele não vive nem perto de áreas urbanas. É necessário conservar áreas grandes de restinga”, comenta o biólogo Marcos Tortato, que pesquisa o felino.

O grande problema avaliado por Tortato é que, ao mudar o status de três regiões no interior e nas proximidades do parque para Áreas de Proteção Ambiental (APAs), o “uso sustentável” e a ocupação passam a ser permitidos. “Fica claro ao ler o projeto que ele não contempla a razão biológica, não estão preocupados com a conservação da restinga”, reitera. Ele faz uma estimativa baixa de que, atualmente, existem mais de dois mil hectares de restinga bem conservados na área do parque.

O pesquisador estuda o gato-do-mato-pequeno desde abril de 2003, quando, por acaso, descobriu a existência do animal na restinga catarinense. Para monitorá-lo e estudá-lo, Tortato criou o “Projeto Felinos do Tabuleiro” e realizou, até agora, pesquisas básicas sobre a espécie, que ajudam a entender o seu comportamento.

A próxima etapa é saber justamente como o gato-do-mato-pequeno utiliza a restiga. “Já se pode afirmar com segurança que ele, ao contrário do que alguns afirmam, é sim residente do local e depende muito das presas nativas para sobreviver”, aponta Tortato. O felino se alimenta principalmente de pequenos roedores, aves (do tamanho de um canário) e répteis (pequenos lagartos), e cumpre o papel de regulador dessas espécies ao manter o controle das populações.

Algumas espécies do parque já foram extintas
A mudança prevista no projeto do mosaico da Serra do Tabuleiro atinge também outros animais. Um deles, o preá das Ilhas Moleque do Sul (Cavia intermedia), é um dos mamíferos mais raros do planeta, com a existência estimada de apenas 60 indivíduos. Outras espécies viviam no parque até há pouco tempo, mas foram extintas, como a onça-pintada (Panthera onca), o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) e a ariranha (Pteronura brasiliensis).

Marcos Tortato diz que o parque tem potencial de abrigar inúmeros outros animais. “Os peixes da restinga, por exemplo, nunca foram estudados. As mudanças [do projeto], se acontecerem, com certeza afetarão a fauna, não posso precisar em números agora, mas que vão, vão”, afirma.

Na semana passada, Tortato e outros biólogos entregaram uma carta com dados relativos às espécies que vivem no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro aos deputados da Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

Clique aqui para ler a íntegra do documento.

(Por Juliana Dal Piva, Ambiente JÁ, 18/02/2009)


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