Com a inauguração da Estação Natureza, a Estação Ciência da USP pretende sensibilizar a população quanto à preservação do meio ambiente de forma lúdica e instrutiva
“Eu me perguntava: como eles vão conseguir colocar a natureza dentro de um contêiner?” A dúvida do físico Ernst Hamburger, por oito anos diretor da Estação Ciência da USP, fazia sentido: a proposta da nova mostra permanente do museu uspiano, a Estação Natureza, era exatamente colocar a flora e a fauna brasileiras dentro de contêineres. Na verdade cinco deles, chamados de “vagões”, numa analogia à própria estação de trens desativada no bairro paulistano da Lapa onde a Estação Ciência está instalada. E deu certo. Numa parceria da Universidade com a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, foi inaugurada no último dia 10 a Estação Natureza, ao longo de 100 metros de trilhos que cortam a plataforma de entrada da Estação Ciência e com uma área total de 240 m2. E a pergunta do professor Hamburger, teve resposta? Sim. “Eles realmente conseguiram. Ficou belíssimo. Em um espaço pequeno conseguiu-se fazer um trabalho de impacto, de alta beleza e muito instrutivo.”
Realmente, a Estação Natureza chama a atenção do visitante de várias formas. Não só pela beleza e importância da proposta, mas pelo que ela traz de inovador. Não é simplesmente chamar a atenção para a necessidade de se preservar o meio ambiente – um discurso que, se não vier acompanhado de medidas substantivas, tende a cair na retórica do “politicamente correto”. Trata-se de, antes de mais nada, sensibilizar o observador, fazê-lo refletir. “Esta é uma exposição interativa que visa a sensibilizar a todos quanto à necessidade de se preservar o meio ambiente”, afirmou, no discurso de abertura da exposição, o presidente da Fundação O Boticário, Artur Noêmio Grynbaum. “É uma oportunidade de difundir as belezas naturais do Brasil e incentivar a preservação”, afirmou ele, lembrando que esta mostra inaugurada na Estação Ciência é a terceira do gênero: antes dela, já haviam sido criadas “estações natureza” em Curitiba e em Corumbá. O secretário estadual de Meio Ambiente, Chico Graziano, presente ao evento, fez coro: “Devemos transmitir conhecimento e jogar uma semente de mudança na mente de todos, principalmente das crianças e dos jovens”, disse ele, revelando que em março o governo do Estado vai lançar um grande programa de educação ambiental chamado A Criança Ecológica.
Sons e aromas
Mas, afinal, como se dá a interatividade e a sensibilização na Estação Natureza? Pelo estímulo aos sentidos humanos. Em cada um dos cinco vagões, o visitante é instado a tocar nas peças expostas – e sentir, por exemplo, a aspereza de cascas de árvores do cerrado do terceiro carro –, a ouvir sons de pássaros, de trovão – como os que ocorrem na Amazônia, no segundo vagão – e a sentir aromas típicos da Mata Atlântica. Tudo isso com imagens, com o perdão do clichê, de realmente encher os olhos. “A ideia é estimular ao máximo as sensações do visitante numa exposição muito sofisticada e explorar a questão lúdica”, acredita a professora Roseli de Deus Lopes, diretora da Estação Ciência. “Essa exposição, além do mais, atende tanto ao rigor científico que a Universidade de São Paulo exige quanto ao interesse e à curiosidade de um público leigo”, garante ela. Segundo a diretora, a Estação Ciência tem potencial para quintuplicar seu número de visitantes por ano. Atualmente, o museu da USP recebe 200 mil pessoas anualmente, e pode chegar a até 1 milhão. “Temos capacidade para tal, mas para isso precisamos incrementar novas parcerias e aumentar nossa equipe de monitores e educadores”, afirma.
A exposição da Estação Natureza está aberta ao público desde o último dia 11. A Estação Ciência funciona de terça a sexta-feira, das 8h às 18h, e sábados, domingos e feriados, das 9h às 18h. O ingresso custa R$ 2,00 e crianças menores de 6 anos, maiores de 60 anos, portadores de necessidades especiais com um acompanhante, professores e comunidade USP não pagam. No primeiro sábado e no terceiro domingo de cada mês a entrada é gratuita.
Em cada vagão, um pouco de Brasil
Veja abaixo o que você pode descobrir em cada um dos cinco vagões da Estação Natureza:
Primeiro vagão:
A visita começa com uma projeção audiovisual que introduz conceitos importantes sobre o que será visto durante o passeio. Os espectadores sentam-se em bancos colocados lateralmente no vagão e assistem à projeção que é feita no piso.
Segundo vagão:
Neste carro são apresentadas as belezas dos Ecossistemas Costeiros e da Amazônia. O visitante verá imagens de manguezais e suas localizações em mapas, além de sentir um leve aroma de floresta e ouvir sons de pássaros e ruído de trovão.
Terceiro vagão:
Neste ambiente é possível conhecer as peculiaridades de animais e plantas do Pantanal e do Cerrado, como o tuiuiú, uma das maiores aves da América do Sul. Há sons típicos do lugar, figuras de jacarés e cascas de árvores do cerrado, nas quais o visitante é instado a passar a mão para sentir a sua aspereza.
Quarto vagão:
Aqui o visitante se surpreende com a ambiente seco da Caatinga e com a voluptuosidade da Mata Atlântica – ou pelo menos do que restou dela. O ar é impregnado por uma fragrância marcante. Similar a que pode ser sentida na mata.
Quinto vagão:
Neste vagão, além de conhecer um pouco mais sobre a Floresta com Araucária e o Pampa – típicos do sul do Brasil –, o visitante recebe informações de como contribuir com a proteção da natureza. Essas dicas são ouvidas em frases narradas por pessoas de diversas regiões do país. Além disso, o espectador irá se deparar com sua imagem em espelhos. A intenção é levar a uma reflexão acerca de atitudes ambientalmente responsáveis.
(Por Marcelo Rollemberg, USP online, 17/02/2009)