No estudo da geografia nos deparamos com situações que nos levam a observar certos biomas brasileiros com uma percepção mais ativa. A mata atlântica, por exemplo, possui uma diversidade única de paisagens, flora e fauna. A mata atlântica desempenhou papel muito importante na história brasileira. Ela é considerada um dos maiores repositórios de biodiversidade do planeta e um dos cinco mais importantes hotspots mundiais.
Os hotspots, que representam somente 1,4% da superfície terrestre, são regiões de elevada riqueza biológica, abrigam a maior parte de biodiversidade do planeta e estão sob alto grau de ameaça, com 70% ou mais da vegetação original destruídos.
Os impactos de diferentes ciclos de exploração, a concentração das maiores cidades e núcleos industriais e também a grande pressão antrópica devido à alta densidade demográfica (60% da população brasileira vivem na região) fizeram com que a área de vegetação natural da mata atlântica fosse reduzida drasticamente: ela está hoje restrita a menos de 8% de sua extensão original, que cobria toda a floresta entre o Nordeste brasileiro até o Estado do Rio Grande do Sul.
O alto grau de devastação e fragmentação florestal a que vem submetida a mata atlântica se reflete nos números de espécies ameaçadas: mais de 500 animais e plantas estão nessa situação.
Apesar da devastação acentuada, a mata atlântica ainda abriga uma parcela significativa de diversidade biológica, com altíssimos níveis de endemismo, ou seja, várias espécies só ocorrem nessa região e em mais nenhum outro lugar do planeta. A riqueza pontual é tão expressiva que os dois maiores recordes mundiais de diversidade botânica para plantas lenhosas foram registrados nesse bioma (454 espécies em um único hectare do Sul do Estado da Bahia).
As estimativas indicam ainda que a mata atlântica possua, aproximadamente, 20 mil espécies de plantas vasculares, das quais mais da metade restritas a esse hotspot. De um total estimado em mais de 1.800 espécies de vertebrados terrestres (aves, mamíferos, répteis e anfíbios), aproximadamente 40% delas também são endêmicas ao bioma, ou seja, só ocorrem na mata atlântica.
A diversidade de espécies da mata atlântica pode ser causada por sua história geológica e pelas variações ambientais extremas que ocorrem na região – latitudinal, altitudinal e longitudinal. Esses três eixos se combinam, criando uma variedade única de paisagens, ajudando a explicar como a extraordinária diversidade de espécie da região é mantida.
A mata atlântica já desapareceu da maior parte do território brasileiro e o estado de Santa Catarina, que ainda preserva boa parte desse bioma, vem sofrendo sérios problemas de desmatamento da mata nativa.
Os grandes vilões do desmatamento da mata atlântica em Santa Catarina vêm sendo os reflorestadores de espécies exóticas como o Pínus Elliottii e o eucalipto. Os reflorestamentos dessas espécies estão sufocando a vegetação nativa da mata atlântica, principalmente no interior do Estado. Retirar a floresta dessas regiões é condenar milhares de seres vivos ao relento, sem abrigo e sem proteção para sobreviverem.
(Por Luciano Schmitt,
A Notícia, 17/02/2009)
* Luciano Schmitt é professor de geografia das redes municipal e estadual de ensino de Mafra