(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
direitos indígenas Indígenas da Amazônia
2009-02-17

Gilberto Azanha é antropólogo e coordena o Centro de Trabalho Indigenista (CTI).  Há mais de 30 anos trabalhando com os povos indígenas da Amazônia, Azanha conta, em entrevista exclusiva, quais os principais desafios que povos indígenas enfrentam hoje, a situação atual dos índios isolados, além de contar um pouco da atuação o CTI na região e sua relação com a Fundação Nacional do Índio (Funai).

Amazônia.org.br - Quais os desafios com relação à questão indígena na Amazônia?
Gilberto Azanha -
Primeiro é o Estado realmente ter presença para acabar com as atividades irregulares que ocorrem na Amazônia e acabam afetando as terras indígenas. O outro é o governo respeitar os interesses dos povos indígenas e a autonomia administrativa que eles têm que ter nas terras deles.  Eles são parcialmente ouvidos ou são ouvidos a posteriori, principalmente quando se trata de grandes projetos, por exemplo agora o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento].  Esses são os desafios, que têm a ver com a presença do Estado, para o bem ou para o mal.

Qual a sua opinião sobre os grandes empreendimentos previstos na Amazônia, como as hidrelétricas do Madeira (RO) e Belo Monte (PA)?
Azanha -
É o que eu te disse anteriormente: de um lado tem a leniência do Estado com relação às atividades ilegais como o corte de madeira e do outro a história com relação às obras do PAC, na qual os índios são ouvidos na última etapa de um processo. Não se discute antes com eles a necessidade disso, para eles entenderem e terem direito de responder 'nós temos outra necessidade'.  Nunca é um diálogo, sempre é uma imposição.  Os índios são sempre os últimos a falar e quando eles protestam e o Ministério Público entra no caso falam que "os índios e o ministério atrapalham o progresso da nação".

Com relação aos índios isolados, no ano passado vocês denunciaram a ausência do Estado peruano no atendimento a esses povos.  Como está essa situação?
Azanha -
Continua igual.  O Peru não quer saber.  O peru colocou na cabeça que vai explorar petróleo na Amazônia, custe o que custar, independentemente do que se ocorre, se tem índio isolado em suas terras. Eles [governo peruano] acham que "índios isolados" é pura "invencionice" de ONGs.  Os peruanos continuam fazendo exploração predatória dentro das terras deles e empurram povos já contatados para o território dos índios isolados, isso faz com que haja problemas, os índios isolados migram - fugindo dessas lutas.

Os índios isolados, na verdade, são isolados porque eles fogem e não porque eles não sabem o que está acontecendo.  Eles têm noção do que é avião, tem acesso a bens, mas eles não querem ter o contato, eles refutam o contato, eles fogem do contato.  Mesmo com povos já contatados, eles vêem como uma ameaça. Eles não têm noção de fronteira.  Eles entram num lugar onde não tem esse tipo de pressão e esse lugar, por acaso, se chama Brasil.  Este lugar, por acaso, tem uma política consequente e coerente da Funai - de duas décadas pelo menos - em deixar essas populações tranquilas e ter o contato quando elas acharem que é conveniente para elas.

A gente apoia esse projeto.  A gente consegue financiamento de fora para apoiar porque a Funai nunca tem orçamento nem estrutura. Essa questão é muito delicada, porque os povos isolados têm pouca resistência orgânica.  A Funai tem que ser eficiente nessa área se ela quer preservar esses povos. Como apoiamos, vamos captar dinheiro no exterior, elaborar um termo de cooperação com a Funai e comprar materiais, fazer expedições para a Funai executar, para colocar à disposição da Funai. No ano passado, o CTI assinou um termo de cooperação com a Funai.  Do que se trata o termo?  Gilberto Azanha - Estabelece normas e regras para a cooperação nessas áreas, para o desenvolvimento dos povos indígenas.

Há duas semanas, foi publicada no blog do ex-presidente da Funai Mércio Gomes (http://merciogomes.blogspot.com) uma denúncia dizendo que os índios não foram informados sobre o termo.  Como foi o processo para a realização desse acordo com a Funai?
Azanha -
Trabalhamos na Amazônia há mais de 30 anos.  Esse termo é uma maneira de a Funai regularizar a nossa presença em terras indígenas.

Eles [os índios] não precisam ser informados porque é uma coisa abstrata: um termo de cooperação para estabelecer normas e regras para a atuação do CTI em terra indígena.  Não é o que o Mércio diz, que a Funai está entregando suas ações.  É o contrário: a Funai está regulamentando a nossa presença em terra indígena.

Quais as atividades que o CTI realiza na região?
Azanha -
Desde estudos de demarcação de terras até projetos de saúde e educação.

Vocês atendem a quantos povos indígenas?
Azanha -
Diversos povos, mas especialmente os Xavantes.  Já atendíamos antes mesmo da fundação da organização.  O CTI foi fundado, em 1979, para dar uma estrutura institucional para as ações que diversos antropólogos.  O que a Funai quis fazer é dar um exemplo de como se pode regulamentar.  Estamos fazendo isso.  Qualquer chefe de posto da Funai nas regiões em que trabalhamos sabe quem somos nós, qual a relação que temos com os índios.

Quais as próximas atividades do CTI?
Azanha -
Em relação à questão dos índios isolados no Peru, onde a situação é mais terrível, nós vamos continuar se aliando às organizações indígenas.  Lá, a maioria das organizações de direitos dos índios são organizações indígenas.  Fazemos encontro, atuamos, pressionamos a Petrobrás, que tem lotes de terrenos na Amazônia peruana...

No Brasil, conseguimos um financiamento da USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] para continuar apoiando as ações da coordenação de índios isolados da Funai.

Com relação às outras populações indígenas da Amazônia, quais são as atividades previstas para este ano?
Azanha -
Para este ano, a gente continua com o nosso trabalho de educação no Vale do Javari, que é um projeto de conservação do vale.  Temos um trabalho no médio Xingu e continuaremos com os trabalhos no Maranhão e no norte do Tocantins, que também é um trabalho de educação, de demarcação e regularização fundiária e de aliança e apoio às organizações indígenas locais.

(Por Thais Iervolino, Amazonia.org.br, 16/02/2009)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -