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represa pesca
2009-02-14

 O rio Tigre tem menos água e está mais contaminado. A escassez de peixes e a alta do preço dos combustíveis e de outros implementos básicos no Iraque tornam cada vez mais cara a atividade do setor. Não é uma boa época para ser pescador, lamentou Hamza Majit,. “Cada dia é pior”, insistiu o homem instalado em seu barco diante da pergunta da IPS. “Veja o que tem abaixo do nível da água”, exclamou o pescador tocando o fundo com um pedaço de pau a dois metros da superfície.

“É preciso que o nível da água esteja mais alto para jogar as redes, e este é o lugar mais fundo desta área. Com esta profundidade fica difícil a captura”, afirmou. É comum ver garrafas de plástico, saquinhos de supermercado e outros dejetos flutuando no outrora transparente rio Tigre.

“Os peixes são um tesouro de Deus, mas agora há muitas coisas que impedem o acesso a ele”,lamentou Majit. Antes da invasão norte-americana, em março de 2003, costumávamos pescar dezenas de peixes por dia. Agora, “temos sorte se conseguir pegar 10”, comentou este pescador artesanal. Também há alarme entre funcionários do governo. “O Tigre continua muito contaminado e a situação piora”, disse à IPS a ministra do Meio Ambiente, Narmin Othaman.

“O fato prejudica muitos iraquianos, por isso o governo procura meios de começar a resolver o problema”. O assunto tem caráter urgente, destacou. “Precisamos fazê-lo porque ninguém mais irá fazer e a deterioração não vai parar. O Tigre é um dos tesouros do Iraque e devemos preservar nossos tesouros”, disse Othman.

“A situação é grave”, destacou o professor da Universidade de Bagdá Ratib Mufid em 2007. “O rio está cada vez mais contaminado e não há nenhum projeto para evitar sua destruição”, acrescentou. Desde então, a situação só piorou. O problema começa na nascente e se multiplica ao longo de seu trajeto. “O problema da redução do caudal começa na cordilheira de Taurus, na Turquia”, alertou Seif Barakah, do escritório de comunicações do ministério, também em 2007.

“Entre essa região e o Curdistão foram construídas muitas represas que diminuíram o caudal do rio. A idéia era evitar as inundações que por anos prejudicaram as populações dessa área, mas, agora fizeram com que o caudal baixasse pela metade”, acrescentou.

O Tigre flui desde as montanhas do sudeste da Turquia até o Iraque e desemboca no Golfo Pérsico ou Arábico. Majit é pescador desde que tinha 10 anos e, como a maioria de seus colegas no Tigre, herdou o negócio familiar. Agora dois de seus filhos trabalham com ele. Não só é difícil pescar, mas também é desagradável e perigoso.

O cheiro de plástico queimado, e em alguns lugares de esgoto, é insuportável. Além disso, Majit contou que foi atacado por soldados norte-americanos da bem protegida Zona Verde, cujos muros de concreto estão em uma das margens do rio. Na Zona Verde ficam a sede do governo nacional e as embaixadas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.

O rio está contaminado com dejetos de guerra, derivados de petróleo, lixo industrial e toxinas. Além disso, formaram-se grandes lixões nas margens. Durante o regime de Saddam Hussein (1979-2003), executado em 2006, era crime jogar lixo no rio. Agora não há ninguém que impeça. A conseqüência da escassez de peixes repercutiu inevitavelmente nos mercados. O custo do produto aumentou de dois para oito dólares, em média.

“É muito caro e cada vez menos pessoas podem pagar”, disse o vendedor de pescado Amar Hamsa, de 25 anos. O pescado feito no forno era considerado um manjar, afirmou Ali Sabri, que apenas consegue se manter no negócio. Há muitos lugares vazios ao lado do seu dos que não conseguiram continuar. “Há pouca gente em Bagdá que pode pagar estes preços”, insistiu. (IPS/Envolverde)

(Por Dahr Jamail, da IPS, Envolverde, 13/02/2009)


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