Logo após ler o livro de Fritz Müller sobre os experimentos feitos em Santa Catarina, Charles Darwin escreveu ao amigo. A carta é de 10 de agosto de 1865.
"Meu caro senhor, estive por um longo período tão doente, que somente agora acabo de ter ouvido as leituras de sua obra sobre espécies, que me foi feita em voz alta. Agora, o senhor me permita lhe agradecer cordialmente pelo grande interesse com o qual eu a li. O senhor fez um admirável serviço pela causa em que ambos acreditamos. Muitos de seus argumentos me parecem excelentes, e muitos de seus fatos, maravilhosos (...)."
As 39 cartas escritas por Darwin a Müller e as 34 que fizeram o sentido contrário estão publicada na obra "Dear Mr. Darwin", escrita em português, na cidade de Blumenau, pelo neurocirurgião Cezar Zillig. O livro está esgotado. O próprio pesquisador, na obra, relata que nem todas as cartas trocadas entre ambos foram encontradas até hoje.
É interessante notar na correspondência, como apontou Zillig em entrevista à Folha, que os dois se tornaram grandes amigos e conversaram sobre tudo. Pouco, até, sobre a evolução dos crustáceos propriamente dita. O lado botânico de Darwin e de Müller emerge claramente dos textos.
"Há poucos dias recebi sua dissertação sobre plantas trepadeiras, e me apresso em lhe expressar minha gratidão por esta valiosa dádiva. Eu a li com o maior interesse e estou muito feliz que minha atenção foi dirigida para estas notáveis plantas, que são extraordinariamente frequentes em nossa flora (...)", escreveu Müller ao amigo inglês no dia 12 de agosto de 1865.
É possível perceber nas cartas que ambos nem sempre tinham certezas definitivas sobre evolução. Porém, a dupla confiava em suas observações e na ciência que estavam fazendo. Nos textos, Müller demonstra ser um preocupado observador da natureza.
"A paisagem em nossa ilha é muito bonita. (...) Infelizmente, agora a vegetação perdeu muito de sua primitiva grandiosidade. (...) muitos de nossos morros são agora cobertos quase que exclusivamente por arbustos baixos de uma insignificante Dodonaea (vassoura-vermelha)", disse Müller em carta de 1º de novembro de 1865.
Currículo
O alemão Müller nasceu em 1822 e chegou a Blumenau em 1852, já formado filósofo e médico. Em 1856, passou a ensinar matemática no Liceu Provincial da antiga Desterro. Ocupou também o cargo de naturalista do governo da província até 1891. Em 1884, passou a ser naturalista-viajante do Museu Nacional do Rio de Janeiro, posto que perdeu com a proclamação da República.
(Por Eduardo Geraque, Folha de S. Paulo, 12/02/2009)