Os pescadores prejudicados com os grandes empreendimentos no norte do Estado poderão esclarecer suas dúvidas e questionar os impactos da instalação de um estaleiro em Barra do Riacho, Aracruz, na próxima quinta-feira (19). O empreendimento é da Jurong do Brasil e foi anunciado antes mesmo de uma discussão prévia com a comunidade.
Segundo publicado no Diário Oficial do Espírito Santo, as manifestações dos interessados serão recebidas pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) até quinze dias a partir desta quarta-feira (11).
Na região há apreensão sobre as condições que o empreendimento vai ser instalado. Isso porque houve a assinatura de um contrato de estudo para a implantação do estaleiro, sem um diálogo com os moradores. Para os pescadores, será mais um empreendimento prejudicial ao sustento de muitas famílias da região.
A implantação do estaleiro foi divulgada em dezembro do ano passado pelo presidente da Jurong do Brasil, Martin Cheah, o secretário de Desenvolvimento, Guilherme Dias, e o prefeito de Aracruz, Ademar Devéns.
O estaleiro será utilizado para a construção de plataformas de exploração e de produção, e ao reparo naval. Ficará instalado em um milhão de metros quadrados, pertencente à Aracruz Celulose. A previsão é de que as obras iniciem em meados de 2009 e estejam concluídas até 2011.
Segundo os pescadores, a área pretendida pela Jurong fica próxima ao Portocel, também da transnacional, que gera prejuízos para a atividade pesqueira há mais de 10 anos. Eles reclamam que devido à humildade do povo da região, as indústrias se instalam sem diálogo, e vão oprimindo a comunidade tradicional.
A Associação de Pescadores da Barra do Riacho afirma que a comunidade já perdeu a praia da Conchinha, antes bastante utilizada por crianças, e agora ocupada pelo Portocel. Para a instituição, os moradores estão perdendo tudo o que um dia foi patrimônio da população, sem que haja, ao menos, uma discussão.
Com o Portocel, os pescadores tiveram que aprender a conviver, anualmente, com períodos que chegam a atingir quase 30 dias sem conseguir sair com os barcos, devido ao fechamento das comportas para abastecimento das três fábricas da Aracruz, que tiram a força do rio e impedem que a água chegue ao mar.
Já a Jurong, temem os pescadores, por ser um estaleiro, deverá atrair barcos com problemas, com riscos de vazamento de óleo. Ao todo, a empresa pretende investir R$ 500 milhões no projeto em Barra do Riacho. A previsão é que os estudos ambientais fiquem prontos até dezembro deste ano.
A empresa é uma gigante do setor naval de Cingapura, com receita anual de US$ 2 bilhões. Atua no Brasil há 14 anos e a operação no Estado é a quarta da empresa no exterior, depois de Estados Unidos, China e Oriente Médio.
Cerca de um terço das ações da Jurong Shipyard pertencem ao governo de Cingapura. É considerada uma das maiores construtoras de plataformas de perfuração em águas profundas do mundo. Mais de 60% das plataformas operantes na Bacia de Campos foram construídas pela Jurong.
As negociações da Jurong no Estado foram iniciadas em maio de 2008, quando o governador Paulo Hartung e o secretário Guilherme Dias visitaram a empresa em Cingapura.
A audiência para discutir a implantação do estaleiro será realizada às 19 horas, na Sede Praiana da Associação Recreativa e Cultural de Aracruz, na avenida Beira Mar, na Barra do Sahy.
(Por Flavia Bernardes,
Século Diário, 12/02/2009)