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crescimento urbano pínus pronaf
2009-02-11
Em 1998, Ido Michels lançou o livro “Crítica ao modelo catarinense de desenvolvimento”, editado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Não pretendo aqui discutir as ideias do autor, pois este pequeno espaço não comportaria a grandiosidade do minucioso trabalho de pesquisa sobre o desenvolvimento industrial de Santa Catarina a partir da coleta e leitura de documentos e de uma criteriosa revisão bibliográfica com enfoque nas teorias econômicas.

Desejo apenas fazer menção à capa do livro que revela: “A Catarina continua bela, mas não é santa”. Trata-se de um comentário que, de forma inteligente, desmitifica a visão inocente que se tem sobre o modo como o Estado se desenvolveu economicamente em meio às contradições e desigualdades sociais.

De fato, Santa Catarina é um Estado “bonito por natureza”, com a paisagem que encanta e prende o olhar atento das pessoas que transitam desde a orla à mais alta montanha, nas características das edificações das populações que o povoaram, na diversidade cultural, nos costumes e no modo de viver das comunidades.

No entanto, se for levado ao pé da letra, a associação da beleza à paisagem, o modo progressivo como vem ocorrendo a destruição das matas para fins comerciais no interior de vários municípios, em breve, não será mais possível afirmar que “a Catarina continua bela”.

Durante um longo período da história da colonização, desbravar/derrubar a mata era símbolo de heroísmo, uma vez que a conquista do espaço dependia da ocupação e estava associada à produção e à edificação de moradias em terrenos considerados inóspitos, tendo em vista que a terra estava habitada por nativos (apelidados de bugres), os quais tentavam defender o seu território.

Depois, vieram as serrarias, as empresas estrangeiras interessadas na “madeira de lei” de grande aceitação nos mercados de países europeus. Para lá, foi parte das árvores que levaram centenas de anos para se desenvolver e atingir a robustez dos troncos capazes de eternizar a decoração de moradias de ilustres famílias.

Na época, não havia leis de proteção porque a abundância florestal reinava nas terras apinhadas de madeiras nobres. No Planalto Norte Catarinense, ainda se encontram evidências materiais de empreendimentos construídos no começo do século 20, destinados à exportação de madeiras.

Depois de promover o sistema de terra arrasada, finalmente, a partir de meados do século 20 foram elaboradas leis que restringem a derrubada de matas. Porém, para garantir a produção de celulose, de madeira e de lenha para abastecer o mercado, decidiu-se pelo reflorestamento com árvores exóticas. A política de estímulo ao reflorestamento, editada pelo governo federal em 1965, acelerou a destruição da natureza com a substituição da diversidade da floresta nativa pela monocultura de eucalipto e pínus.

Mesmo com as mudanças no Código Florestal, que define critérios para o uso dos recursos ambientais, o desmatamento continua acelerado. Se, por um lado, as leis são eficientes, por outro, a fiscalização é precária.

Como não há pesquisas para verificar se é possível desenvolver em larga escala espécies nativas, uma vez que as exóticas se desenvolvem mais rápido e dão retorno financeiro em tempo relativamente curto, também os agricultores optam por derrubar a mata e, no seu lugar, plantam pínus, pois, como dizem, é uma garantia para a família, a “moeda verde”, que cresce sem muito esforço e cuidados, ao contrário da agricultura.

Além do mais, o Programa de apoio à Agricultura Familiar tem uma linha de crédito destinada ao reflorestamento. Neste sentido, todas as medidas convergem para o aumento de plantio de árvores exóticas. No entanto, para minimizar o impacto destrutivo do reflorestamento pautado na monocultura, recomenda-se priorizar o mosaico de paisagem, ou seja, intercalar pínus ou eucalipto com floresta nativa.

Em Santa Catarina, parte dos morros de onde vertem as nascentes que abastecem toda a população rural e urbana está coberta de pínus e de eucalipto, que se transformam em madeiras ou em carvão. Por mais absurdo que pareça, há, na área rural, comunidades com falta de água potável para consumo doméstico.

A falta de assistência técnica para que os agricultores possam utilizar os recursos naturais de forma simplificada é também responsável por este processo. O sistema de manejo florestal comunitário e familiar é uma possibilidade para conciliar as necessidades de produção e de preservação ambiental. Pelo contrário, a Catarina que já não era “santa” também não será “bela”.

(Por Valdete Daufemback, A Notícia, 11/02/2009)
* Valdete Daufemback é professora e coordenadora do Arquivo Histórico de Joinville

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