A crise econômica mundial significa queda das vendas, diminuição da produção industrial, demissões e baixos índices de criação de novos empregos. Porém, contrariando este quadro, uma pesquisa conjunta dos institutos Greenhouse Gas Management e Sequence Staffing, apresentou que o mercado de carbono e outras atividades ligadas às mudanças climáticas não encontram profissionais qualificados para as vagas que oferecem.
O 2009 Greenhouse Gas and Climate Change Workforce Needs Assessment Survey Report entrevistou 700 executivos, cientistas e líderes de organizações dos setores público, privado e sem fins lucrativos, de todo o mundo, e revelou que 84% consideram difícil achar profissionais capacitados para o setor e que 87% acreditam que isso será um grave problema nos próximos anos.
“O resultado faz sentido devido ao rápido crescimento do mercado de mudanças climáticas e de carbono”, afirma o vice-presidente da Sequence Staffing, Frank DeSafey. “A necessidade por especialistas treinados para esse setor é fundamental para que a comunidade internacional seja páreo para a crise climática e também para aproveitar as oportunidades provenientes dela”.
No Brasil o cenário não é diferente, existem centenas de ONGs, programas governamentais e empresas oferecendo vagas que não são preenchidas pela falta de pessoas capacitadas. Por exemplo, uma reportagem recente do jornal Valor Econômico apontou para a falta de engenheiros e técnicos florestais, o que poderá acarretar no fracasso do plano do governo federal de realizar concessões públicas de terras na Amazônia.
Segundo o professor da UFMG Carlos Antônio Leite Brandão, organizador do livro “As profissões do futuro”, existem muitas oportunidades no setor no Brasil, até em virtude dos problemas que temos por aqui. “Basta ver os limites que chegamos em relação à exaustão do meio ambiente e da própria fonte de recursos, as quais é preciso controlar. Isto impõe, além de questões específicas ao meio ambiente e ao universo da energia e tecnologia, questões complexas de ordem cultural, ética e legal.”
Novas profissões
Ainda de acordo com o relatório, 82% dos entrevistados acreditam que as instituições educacionais não estão fornecendo as habilidades e conhecimentos para treinar os profissionais que ingressarão na área.
“Em um campo tão técnico, é crucial que os profissionais sejam treinados para dar apoio ao programa de ‘cap-and-trade’ ou ao sistema de taxas de carbono”, diz o diretor do Instituto de Administração dos Gases do Efeito Estufa, Michael Gillenwater. “Nosso relatório indica que é um sério risco para a própria credibilidade do setor o emprego de pessoas não qualificadas. Corremos o risco de escândalos no estilo da Enron ou do mercado de hipotecas americano. Para evitar isso, precisamos de profissionais éticos e capacitados para regular, auditar e administrar as emissões.”
Para o professor Brandão, o problema é complexo e exige o envolvimento de profissionais de vários campos. “As universidades precisam se capacitar rapidamente para enfrentar as questões ambientais. Sobretudo na pós-graduação, com cursos capazes de fazerem interagir vários alunos de várias áreas do conhecimento e diante de problemas localizados, circunstanciados, imediatos e complexos, onde o saber se aplique e se dimensione conforme o problema que se coloca, como no caso da Amazônia, dos transgênicos, das terras para a plantação de cana-de-açúcar, etc”, afirma.
A pesquisa conclui também que 85% dos entrevistados acreditam que a economia verde deve ter um crescimento de 25% no próximo ano. De acordo com o livro “As profissões do futuro”, novas atividades devem se estabelecer e ganhar ainda mais espaço no mercado. Trabalhos como o de cientista sócio ambiental, para analisar as questões de preservação do meio ambiente; especialista em aquecimento global; "climatologista", para analisar e prever mudanças climáticas; serão muito valorizados.
Mas não são apenas emprego e salário que esses novos profissionais devem buscar, parece existir toda uma necessidade por uma postura com mais compromisso social. “São problemas não apenas técnicos, mas também éticos, culturais e relativos à justiça social. O difícil é entrelaçar todas estas dimensões e considerar o impacto global das ações locais e contextualizadas. A questão ambiental não pode ser pensada em si mesma, mas associada com as questões do direito, da cultura e da ética, talvez um pouco como pensou Chico Mendes, mas incorporando melhor as questões avançadas como as que têm chegado a biologia e a bioética”, conclui Brandão.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 10/02/2009)