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raposa serra do sol direitos indígenas terras indígenas
2009-02-11

Dionito Macuxi, coordenador do Conselho Indígena de Roraima e líder dos povos indígenas de Raposa Serra do Sol, concedeu um entrevista exclusiva ao site Amazonia.org.br. Durante a conversa, Macuxi denunciou as políticas anti-indigenistas das autoridades de Roraima e cobrou maior preparo profissional do Exército e atuação da Polícia Federal contra a invasão do território de seu povo por arrozeiros e garimpeiros.

Como você vê a participação do povo de Raposa Serra do Sol neste Fórum Social Mundial?
Dionito:
Nós estamos aqui defendendo a demarcação de nosso território em terras contínuas e queremos que se faça a revisão do decreto de homologação de Raposa Serra do Sol.  Soubemos que o governo federal está negociando com o estado de Roraima para doar terras federais ao estado, e não sabemos quais terras são essas.  Mas, estamos acompanhando tudo e, se por acaso essas terras que estão negociando forem indígenas, nós não vamos aceitar.

Você acha que a decisão parcial do STF em favor da demarcação contínua de Raposa Serra do Sol foi um avanço?
Dionito:
Temos avanço em algumas partes.  Em outras não.  Pela decisão do STF, não podemos garimpar, cobrar pedágio e o Exército entrará em terras indígenas sem pedir permissão aos índios.  Também, a nossa terra não poderá ser ampliada.  Queremos um diálogo com o governo e que o STF vote pela demarcação contínua de Raposa Serra do Sol, porque esse território é brasileiro e é terra indígena de Roraima.  Também, as hidrelétricas, as estradas que estão sendo construídas ao nosso redor sem nossa permissão vão nos prejudicar.

Queremos diálogo com o governo federal para negociar melhores alternativas aos povos indígenas.  Não queremos mais ficar na miséria, nem vivendo de migalhas ou de programas de governo.  Nós temos que implantar um plano específico e exclusivo aos povos indígenas, em respeito à Constituição Federal.

Quais as dificuldades hoje enfrentadas pelo povo de Raposa Serra do Sol, além do conflito pela propriedade da terra?
Dionito:
O governo de Roraima é anti-indígena e toda a bancada parlamentar do estado é contra nossos povos.  Além disso, os arrozeiros ainda ameaçam nosso direito ao território e não querem sair de lá.

O próprio município é contra a gente.  Alguns indígenas são pagos para sair na mídia dizendo que são contra a demarcação contínua de Raposa Serra do Sol e que concordam com o reconhecimento do território em ilhas.  Isso não é verdade, é apenas o comentário de alguns índios, que aceitam mentir em troca de um quilo de arroz, dez reais, ou uns golinhos de cachaça.  Essa é uma forma de dominação do nosso povo.  Queremos que seja feita a desintrusão de emergência em Raposa Serra do Sol.

Os arrozeiros que, segundo o STF, não têm direito sobre Raposa Serra do Sol continuam dominando a área?
Dionito:
O arrozeiro mais forte de lá irá deixar a área.  Os outros vão permanecer na nossa terra e queremos que saiam.  O governo federal está demorando muito para tomar uma atitude.  Ou temos autoridade forte e competente, que trabalhe com a lei no Brasil, ou a gente deixa que a violência tome conta do país.

Na semana do Fórum Social Mundial morreu um integrante do povo yanomami yapahana, instalado na fronteira com a Venezuela, porque se negou a levar um garimpeiro de barco a outro lugar.  A Polícia Federal não combate a invasão que continua em terras indígenas por causa da mineração e de outros interesses econômicos.

Quais serão, no seu modo de ver, os impactos positivos de sua participação do Fórum Social Mundial à luta indígena?
Dionito:
Estamos dando apoio aos povos indígenas de todo o mundo que aqui se encontram, conforme suas dificuldades, necessidades, preocupações e violência sofrida.  E também aproveitamos para apresentar nossas necessidades de Roraima para que todos daqui também abracem nossa causa.

Estamos divulgando, espalhando, distribuindo vários panfletos sobre a situação em Raposa Serra do Sol.  Acredito que cada um, com seus diferentes problemas, somará forças para que o mundo possa ouvir as necessidades dos povos indígenas.  Com mais palavras e mais oportunidades para falar, teremos mais força certamente.  Todo mundo que está aqui tem uma necessidade, seja ele índio ou não-índio, e esses problemas precisam ser consertados.

Quais as condições do povo macuxi hoje?
Dionito:
Muitos dos não-índios que ameaçavam nosso território têm abandonado as terras, e esperamos começar a viver mais tranquilamente na área daqui para frente.  Há uma carência muito grande no âmbito nacional com relação à falta de fiscalização rigorosa que impeça a entrada de drogas e invasores em nossas terras.

Raposa Serra do Sol tem segurança nas fronteiras que serve só de enfeite por enquanto.  Quem denuncia as coisas erradas que acontecem lá são os índios.  O Exército que está na área só fica de enfeite.  É preciso que eles trabalhem melhor e aumentem sua capacidade de vigilância em terras indígenas.

No seu modo de ver, o Exército brasileiro está preparado para se relacionar com os indígenas quando atuam em suas terras de modo a garantir sua segurança?
Dionito:
Nós não queremos falar mal do Exército, mas eles invadiram algumas comunidades da nossa região, quebrando portas e carregando até ouro pertencente aos seus moradores.  As crianças ficaram um dia escondidas no mato com medo dos militares.  A maior parte dos profissionais que participaram dessa operação já foi afastada, mas a imagem do Exército ainda está manchada pelo episódio.

Os militares não chegaram a nossas terras como amigos, mas sim, como terroristas, bandidos, uma quadrilha que atacou as terras indígenas.  A atuação do Exército tem que melhorar.  Existem bandidos em vários cantos do Brasil e do estado e a polícia não atua.  Agora mesmo, só há policiamento nesta região por causa do Fórum Social Mundial porque normalmente os policiais não trabalham efetivamente na Amazônia e apenas vigiam a si próprios.  Queremos uma melhor segurança.

O que você tem a dizer sobre a forma com que a maior parte dos veículos de comunicação trata de assuntos relacionados com os povos indígenas?
Dionito:
Agradeço este espaço que tenho agora porque há veículos de comunicação que só apresentam o lado ruim dos indígenas.  Temos várias coisas importantes para falar sobre nossos povos e isso normalmente não é noticiado.

Muitas vezes, a mídia só quer ganhar dinheiro e apresenta os detalhes sujos e ruins dos acontecimentos, como mortes e crimes.  Não dá importância à divulgação da nossa causa.  E uma mídia anti-indígena como essa não consideramos profissional.  Esperamos que toda a mídia não fique em cima do muro, nem defenda um partido, mas mostre a realidade do que acontece com o nosso povo.

(Amazônia.org, 11/02/2009)


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