As empresas de eucalipto que geram inúmeros impactos no Espírito Santo estão causando conflito também no sul da Bahia. Trabalhadores rurais que participaram do Fomento Florestal promovido pela Aracruz Celulose e Suzano estão mobilizados na região. Denunciam que as promessas não são cumpridas e os pequenos produtores têm que arcar com o ônus da crise atual.
Um protesto que ocorreu no sul da Bahia repetiu o cenário já visto no Estado. Lá, os trabalhadores reclamam do não cumprimento de contratos, da falta de pagamento pela madeira e também de seus restos, como era acordado com os quilombolas do Espírito Santo, entre outros problemas.
“A pecuária e a agricultura deram lugar à silvicultura. Usaram o fomento para nos seduzir. Foram várias promessas de lucratividade, parceria e comprometimento. O mercado regional estagnou e agora nem a Suzano e a Aracruz cumprem os acordos firmados verbalmente e contratualmente, a exemplo da compra antecipada de madeira, que deixou de ser paga”, ressaltou Érico Cavalcanti, fomentado da região.
O cenário, segundo os produtores, é de desordem geral no setor, promovendo assim a insegurança dos trabalhadores locais. Diante da indignação, os produtores chegaram a protestar, mas estão sendo processados, na tentativa de calar o sentimento de revolta.
“A Suzano, por exemplo, não seguiu o reajuste acordado no preço da madeira e anunciou a suspensão do recebimento de madeira do produtor às vésperas da sua execução, por tempo indeterminado”, pontuou.
No Espírito Santo, o Fomento Florestal promovido pela Aracruz Celulose continua, apesar dos alertas. Segundo o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), esse projeto nunca teve a intenção de ajudar os agricultores, já que a empresa se isenta das responsabilidades trabalhistas e ambientais, que passa a ser do proprietário, e ainda expande sua área de controle.
O fomento cria ainda uma dependência dos agricultores, que só podem vender o eucalipto para a própria empresa, ao preço que ela estabelecer. A atividade também degrada a terra. Dados do MPA apontam que já estão provados os sérios danos que esses plantios geram, principalmente para uma pequena propriedade, como o desaparecimento de córregos e nascentes, além de não gerar emprego para as famílias.
Na Bahia, os prejuízos são sentidos oito anos depois do início do fomento na região, na fase do corte. E somente serão agravados, com a fábrica da Veracel, uma parceria da Aracruz com a sueco-finlandesa Stora Enzo. A empresa já foi condenada por crimes ambientais.
“Inclinados a mudar, fomos eliminando nossas vacas e lavouras para dar lugar à silvicultura. Colocamos nossa reputação, caráter e dignidade a serviço das empresas de celulose. Até quando compravam terras tinham nosso respaldo. Lógico, com menos bois na região, não tinha como se instalar um frigorífico de porte. Desta forma, o mercado regional do boi gordo se estagnava ainda mais”, enfatizou Érico.
Com o tempo, alegam os produtores baianos, todas as opções “salvadoras” das empresas de celulose que garantiam segurança e lucro aos produtores foram ficando cada vez mais distantes. Consolidando, assim, o que representa o Fomento Florestal: o fim do campesinato e nada de benefícios aos produtores, como tentam vender essas empresas.
A Suzano Papel e Celulose ocupa território quilombola em Linharinho, Conceição da Barra, norte do Estado. A empresa já tem fábricas na Bahia e em São Paulo, e informa possuir mais de 190 mil hectares de áreas próprias plantadas com eucalipto, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Maranhão”.
Já a Aracruz Celulose é famosa por seus impactos ambientais. Somente durante sua instalação no Estado, na ditadura militar, destruiu cerca de 50 mil hectares de mata atlântica primária e toda a sua biodiversidade. Sem contar que desestruturou e por pouco não aniquilou completamente os índios Tupinikim e Guarani do Estado, e a comunidade quilombola do norte, além de prejudicar camponeses.
(Por Flavia Bernardes,
Século Diário, 10/02/2009)