A T.I. Tekoha Araguajú está de luto. No dia 19 de Janeiro, em função do quadro grave de desnutrição, faleceu uma criança de dois anos de idade, Jacson Lopes. Quinze dias antes, o estado de saúde de Jacson havia piorado e, embora o cacique da aldeia, Sr. Assunção Benites, tivesse solicitado a intervenção da FUNASA, ninguém da entidade governamental apareceu. Em visita a aldeia, um médico que tem consultório em Guarapuava e que conheceu um grupo de famílias Guarani quando elas moravam na T. I. Marrecas, consultou Jacson e diagnosticou anemia e desnutrição. Receitou vários medicamentos, a maioria dos quais os pais de Jacson não puderam adquirir por falta de recursos. A família do menino e o cacique relataram que, ao saber da visita do médico à aldeia, o pessoal da FUNASA teria desaprovado a atuação do mesmo, pois ele não tinha autorização da entidade para atender os índios.
Jacson foi então levado pelo carro da secretaria Municipal de Saúde da cidade de Terra Roxa, município à qual pertence a aldeia Tekoha Araguajy. O menino ficou internado três dias e, em seguida, recebeu alta do médico de plantão. Os pais de Jacson alegam que ele voltou para a aldeia mais debilitado de quando foi internado no hospital municipal.
Após permanecer um dia e manifestar um quadro clinico grave, o menino foi levado para o hospital de Guaíra e lá ficou internado três (dias). Novamente levada para a aldeia, a criança resistiu quatro (4) dias, sempre apresentando sintomas claros de desidratação (estava com disenteria), anemia e respondendo cada vez menos aos estímulos. Alertada da situação, a FUNASA, mais uma vez, alegou a falta da regularização administrativa da Terra para o não atendimento às famílias daquela aldeia.
Interpelada pelos Guarani, a pessoa que responde pela ONG Reimer, conveniada da FUNASA, no Paraná, liberou a compra de alimentos (de acordo com os Guarani, fazia um ano que a Reimer havia prometido a eles a compra de alimentos) para a família de Jacson. Infelizmente, a permissão chegou tarde demais, pois a criança veio a falecer logo em seguida.
Na audiência publica realizada no dia 26 de setembro de 2008, organizada pelo Ministério Publico Federal (6ª Câmara), frente a um plenário repleto de Procuradores Federais, autoridade federais e estaduais da FUNASA e FUNAI, o cacique Assunção, denunciou, com voz trêmula, a existência de crianças desnutridas na aldeia: “vamos esperar que elas venham a falecer, então alguém irá fazer alguma coisa!”. Ao lamentar o não atendimento da FUNASA – pelos motivos acima mencionados – o cacique Assunção cobrou das autoridades presentes atitudes concretas para reverter o quadro dramático em que se encontram os Guarani de sua aldeia.
Em resposta à Ação Civil Pública impetrada pelo Procurador da República Sr. Robson Martins, da Procuradoria da Repúlica de Umuarama, o Juiz Federal Luiz Carlos Canalli, da 1ª. Vara Federal daquela cidade determinou, liminarmente, em outubro de 2008, que a FUNASA qualificasse o atendimento aos Guarani da Aldeia Tekoha Araguajú. Entre outras providências deu prazo de 10 dias para que fosse instalada água potável na aldeia. A pesar disso, até a morte de Jacson, os Guarani continuavam utilizando a água poluída do Rio Paraná para beber e cozinhar.
Frente ao falecimento do menino Jacson, os sentimentos que permanecem em todos nós são de muita indignação, repúdio e desolação por mais uma vida ceifada prematura e injustamente.
(CIMI Sul – Equipe Paraná, 10/02/2009)