Ao longo da história, a percepção equivocada de separação entre o ser humano e a natureza, potencializada por um pensar fragmentado e pelo modelo econômico, trouxe sérias conseqüências. Vivemos em uma economia que tem como pilar principal, o crescimento patológico do consumismo.
As nações têm se vangloriado do crescimento das instituições escolares, do aumento do PIB e do desenvolvimento e modernização de suas cidades. No entanto, nos encontramos com menos solo fértil, menos florestas, menos água limpa, menos saúde. Estamos padecendo como nossas florestas e nossas terras têm adoecido, colocando em risco não apenas a vida de nossa espécie, mas de toda a comunidade da vida nesse planeta.
É um momento oportuno, diante desse perplexo (e contraditório) cenário, fazer algumas reflexões, pois o tumulto e a crise de nossos tempos oferecem uma oportunidade de fazermos mudanças fundamentais e de reavaliar nossos pressupostos e padrões habituais de vida. Poderíamos atrever-nos com as seguintes perguntas: como estamos instruindo nossos jovens e preparando as gerações vindouras? Que valores e interesses estão envolvidos no processo de educar? Para que educamos? O que vale a pena ser ensinado?
Se queremos efetivamente mudar os padrões auto-destrutivos que criamos, devemos começar pela transformação de todo sistema educacional. William James escreveu:"A maior revolução do nosso tempo é a de que os seres humanos, ao mudarem as atitudes internas de suas mentes, podem mudar os aspectos externos de suas vidas". Isto é, mude a ótica, e teremos uma nova ética.
As escolas de hoje fazem pouco para exercitar a imaginação, motivar ou criar sistemas democráticos. Nossa pedagogia é tecnicista, linear e antropocêntrica, favorece a neutralidade científica, a lógica, a análise dos fatos e a exclusão da emoção na aprendizagem. Privilegiamos o individualismo, a competição, os títulos, o poder aquisitivo.
As instituições e governos devem reconhecer, primeiramente, que toda a educação é ambiental, pois somos parte do mundo natural. Devemos reconhecer a falha da educação em perceber nossa inextricável ligação com sistemas naturais, e da incapacidade de unir intelecto, afeição e lealdade às ecologias das bioregiões. A educação não pode somente ocorrer dentro da sala de aula. Achar que o único aprendizado válido é aquele encontrado entre quatro paredes por via de um currículo cristalizado é um grande equívoco. A mais profunda educação ocorre nos bairros, em casa, no trajeto para a escola, nas experiências humanas. Não nos livros didáticos.
Para evoluirmos nas questões de justiça social, sustentabilidade, saúde integral e cultura de paz, há a necessidade de abrir um espaço para um saber-e-fazer que ligue o que foi separado, que respeite o diverso, e ao mesmo tempo, reconheça a unidade na diversidade e a interdependência das partes. Nessa ecologia, onde a consciência e o mundo estão entrelaçados, não serão mais as identidades nacionais que farão a diferença, e sim, a inteligência coletiva, como afirma Pierre Levy. O conhecimento para o lucro deve tornar-se o conhecimento para a totalidade e plenitude do ser. Deve haver o resgate de valores e comportamentos como a compaixão, a generosidade, a confiança, o respeito mútuo, a responsabilidade, o compromisso, a solidariedade e a iniciativa.
A nova educação abre caminhos para a Ecoformação, que, através da educação transdisciplinar e biocêntrica (centrada na vida), é fundamentada na afetividade da vida, no compartilhar e na construção coletiva de experiências, sentimentos e saberes. É uma educação que tem em vista a ampliação da consciência para uma ética de cuidado e solidariedade com o outro e com a natureza.
Assim como o movimento das ecovilas surge como uma resposta consciente ao problema complexo de mover o planeta em direção a uma sociedade sustentável, pensamos na formação de "ecovilas pessoais" simbólicas. Inspirando-nos nas palavras de Pierre Levy: a Ecoformação acolhe uma visão celebrativa da vida surgindo como "um canto de amor ao mundo contemporâneo e ao futuro que ele traz em seu seio".
O processo estratégico da Ecoformação auxilia no desenvolvimento de valores e habilidades, orientando a transição para a sustentabilidade ambiental, o protagonismo social e a cultura de paz.
(Adital, 09/02/2009)