É de encher os olhos! Olho o mar de Ingleses, na Ilha de Santa Catarina, e vejo as águas límpidas, a espuma branca das ondas e, lá adiante, as ilhas ainda intactas, brilhando ao sol. É de partir o coração! Ando pela praia e logo me deparo com a água preta, viscosa e fétida do Rio Capivari a escorrer, como ferida purulenta, a caminho do mar lotado de banhistas. E dizer que, há apenas quatro anos, nadei neste rio! E quantas vezes parei para ver o balé dos seus peixes e os saltos acrobáticos dos meninos da vizinhança do alto da ponte! Já não se vê mais peixes, os meninos acrobatas se foram. É de partir o coração!
Quem é culpado? Os proprietários das conexões clandestinas de esgoto? Os fiscais que não fiscalizam? O cidadão que não reclama? O poder público que não exige usinas de tratamento nos estabelecimentos comerciais e condomínios, que não instala redes coletoras, que não limpa as ruas, que permite que a sujeira da cidade acabe no rio? Temos todos um pouco de culpa, mas o poder público é o principal responsável. Sua omissão não é só vergonhosa – é criminosa.
É inútil, ano após ano, colocar placas alertando banhistas para o óbvio, enquanto o rio agoniza. É chegada a hora de, de fato, fiscalizar e punir. É preciso limpar a cidade, o rio, salvar o mar, o turismo e milhares de empregos. Alguma coisa vai ser feita? Dificilmente!
Quando a burrice (capaz de matar a galinha dos ovos de ouro) se junta à inoperância e a interesses escusos cria-se uma combinação criminosa quase imbatível. Temo que, diante disso, a situação apenas piore e que no ano que vem a placa “Local impróprio para banho” esteja outra vez lá, grande e sonora, para nos falar do que já sabemos, enquanto o rio agoniza...
(Por Dilvo Ristoff,
Diário Catarinense, 10/02/2009)
* Dilvo Ristoff é professor universitário