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crise econômica crescimento econômico
2009-02-10
“Não acho estranho, mas desejável a retomada do tema do desenvolvimento após anos de predomínio da ideologia neoliberal. Estranho é retomar o tema sem levar em conta toda uma tradição crítica de esquerda ao desenvolvimentismo, realizada, sobretudo nos anos 1970.” A afirmação é do sociólogo Marcelo Ridenti, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Na ocasião, ele reforçou que vale a pena retomar o tema “desde que o crescimento seja também social e ecologicamente responsável, que não seja feito à custa da super-exploração dos trabalhadores e do meio ambiente.”

Além disso, Ridenti destacou a possibilidade de um país desenvolvimentista, tendo à frente Dilma Rouseff ou José Serra (futuros prováveis candidatos à presidência nacional). “Espero que esses candidatos não esqueçam as críticas que eles mesmos fizeram ao desenvolvimentismo no passado, pois temo que o custo da retomada desenvolvimentista acabe recaindo sobre os trabalhadores, com danos ao meio ambiente”, enfatizou o sociólogo.

Marcelo Ridenti é professor de Sociologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).


Por que o senhor considera estranho retomar o tema do desenvolvimentismo nos dias atuais? Qual a contradição com a conjuntura atual?

O desenvolvimentismo foi muito expressivo dos anos 1950 aos 1970, depois perdeu terreno com o avanço neoliberal a partir da década de 1980. Não acho estranho, mas desejável a retomada do tema do desenvolvimento após anos de predomínio da ideologia neoliberal. Estranho é retomar o tema sem levar em conta toda uma tradição crítica de esquerda ao desenvolvimentismo, realizada, sobretudo nos anos 1970. Sejam quais forem hoje as retomadas desse pensamento, indissociável da ação, é preciso não esquecer as críticas clássicas a ele e indagar: a quem serve o desenvolvimento? A que grupos e classes sociais? Qual seu custo em termos ambientais? O risco de ignorar questões como essas seria repetir os erros do velho desenvolvimentismo, sem necessariamente reviver seus acertos.

O que deveria fazer parte de um projeto desenvolvimentista para o Brasil hoje? Celso Furtado ainda é inspiração nesse sentido?

Vale a pena retomar o tema desde que o crescimento seja também social e ecologicamente responsável, que não seja feito à custa da super-exploração dos trabalhadores e do meio ambiente. É preciso levar em conta a herança de Celso Furtado, mas também de seus críticos no campo da esquerda, que constatavam que o desenvolvimentismo não dava conta satisfatoriamente das complexas relações entre as diversas frações da burguesia brasileira, os latifundiários, o capital internacional e o próprio Estado (incluindo aí as Forças Armadas). Tampouco fazia uma análise convincente das classes despossuídas que, em geral, sequer eram tratadas, sem contar uma versão considerada simplificadora da inserção do Brasil e dos países da chamada periferia na divisão internacional do trabalho. Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto delinearam essa crítica no fim dos anos 1960. Paul Singer, Maria da Conceição Tavares e Francisco de Oliveira seriam outros expoentes que lapidaram tal pensamento já na década de 1970.

Qual a importância do livro-manifesto “A opção brasileira” para o tema do desenvolvimentismo hoje?

É um livro importante para uma retomada do tema pela esquerda. Mas não sei se tem razão ao diagnosticar que “nossa fraqueza maior” seria aquilo que chama de “divórcio entre povo e nação”. O risco é voltar a uma idéia abstrata de “povo”, mascarando as diferenças no seu seio. Mas me parece válida a proposta de cinco compromissos, aqueles com a soberania, a solidariedade, o desenvolvimento, a sustentabilidade e a democracia ampliada.

Qual a importância de falar em desenvolvimentismo no Brasil nesse contexto atual de crise financeira internacional? Como entender a insistência do governo Lula no crescimento econômico?

É importante, por certo. Mas seria preciso pensar sempre num crescimento comprometido com a maioria da população brasileira, os trabalhadores e os despossuídos.

 Qual sua avaliação da crise financeira atual? Acredita também em uma crise do capitalismo e do neoliberalismo?

Não sou economista, não sei analisar em profundidade a crise financeira, embora possa constatar o óbvio: ela indica os limites do capitalismo e do neoliberalismo. Só que não parece haver alternativas claras à esquerda, de socialismo. Logo, o provável é que o sistema se recupere para um novo ciclo de crescimento.

Como o senhor define a esquerda brasileira atualmente? Acredita que a esquerda, até mundialmente falando, encontra-se em crise?

Sim, parece que há também uma crise da esquerda, que não consegue dar respostas novas para a situação mundial. Ela precisaria ir além das suas formulações que predominaram no século XX: a social democrata e a bolchevique.

Considerando a formação política dos dois prováveis próximos candidatos à presidência do Brasil (José Serra e Dilma Roussef), o que podemos esperar em termos de projeto desenvolvimentista para o país?

Serra e Dilma consideram-se desenvolvimentistas. Eles foram formados nos debates econômicos, políticos e sociais dos anos 1960, como profissionais e também como militantes políticos. É claro que esse tempo já vai longe e ambos mudaram, mas trazem as marcas da experiência passada. Não é à toa que eles representam as correntes ditas desenvolvimentistas no interior das forças aliadas em torno de seus respectivos partidos, cada qual a seu modo. Serra ficou conhecido, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, como principal expressão da corrente desenvolvimentista do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que dava o contraponto então minoritário a um governo acusado pelos opositores de neoliberal. Por sua vez, Dilma é a face dita desenvolvimentista do governo do petista Lula, que abriga também ministros liberais, que foram mais importantes em seu primeiro governo, mas perderam terreno no segundo. De um lado, é alentador que proponham o desenvolvimento. Mas seria preciso discutir em que base será realizado. Espero que esses candidatos não esqueçam as críticas que eles mesmos fizeram ao desenvolvimentismo no passado, pois temo que o custo da retomada desenvolvimentista acabe recaindo sobre os trabalhadores, com danos ao meio ambiente. Talvez a principal luta política imediata à esquerda seja negociar um desenvolvimento sustentável no aspecto ambiental e que traga ganhos materiais e políticos aos trabalhadores e aos despossuídos.

(Instituto Humanitas Unisinos, 09/02/2009)

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