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plantas medicinais
2009-02-09

O fruto amarelo do pequi tem um óleo rico em ômega 9, combate os radicais livres e controla o colesterol. A casca do barbatimão transforma-se em uma pomada anti-inflamatória. A pata-de-vaca é capaz de baixar o nível de glicose no sangue de quem é diabético. O bacupari pode se tornar um anticoncepcional masculino.

Essas plantas e dezenas de outras são velhas conhecidas dos raizeiros que se aventuram nos campos de mato rasteiro e árvores retorcidas do cerrado em busca de espécies medicinais. Agora, eles têm a companhia de farmacêuticos, agrônomos, biólogos e botânicos, todos pesquisadores interessados em comprovar cientificamente o poder terapêutico de folhas, flores, frutos e cascas da plantação nativa de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Tocantins, parte do Pará, Piauí, Bahia e Distrito Federal, centro desse bioma que abriga mais de 10 mil espécies vegetais.

De acordo com a Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a região é considerada um celeiro de produtos naturais para a fitoterapia — o uso terapêutico de plantas. Recente pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) comprovou com teste em humanos o poder terapêutico do pequi.

“Hoje, nossas empresas farmacêuticas só manipulam princípios ativos importados. Futuramente, poderão também extrair essas substâncias de plantas do cerrado para doenças como malária”, acredita a farmacêutica Laila Salmen Espíndola, pesquisadora-chefe do Laboratório de Farmacognosia da UnB e responsável pela guarda de mais de 2 mil extratos secos de arbustos e árvores medicinais do cerrado.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu o primeiro registro para um medicamento elaborado a partir de uma planta do cerrado. É a pomada Fitoscar, um produto da Apsen Farmacêutica, de São Paulo, composto de Stryphnodendron adstringens, conhecido como barbatimão. O remédio, segundo o registro na Anvisa, tem efeitos cicatrizante, anti-inflamatório e antimicrobiano. A pesquisa clínica foi realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto.

Enquanto o laboratório não define a data de lançamento do medicamento, o assistente de laboratório da Embrapa Cerrados, o goiano José Ferreira Paixão é categórico: “A infusão da casca do barbatimão é excelente para fazer compressas em machucados”, diz, enquanto corta uma lasca do caule da planta e mostra o líquido espesso que escorre do corte. “Ninguém, porém, deve beber o chá. Ele é tóxico e pode trazer danos ao fígado”, alerta.

Paixão, 54 anos, aprendeu a reconhecer o poder medicinal das plantas do cerrado com os pais, em casa. Nascido em Pirenopólis, criado em Niquelândia, e vivendo em Brasília desde 1978, ele conhece bem os campos de árvores retorcidas. “Quando criança, tive malária e fui curado pelo meu pai com remédio de uma planta da mato. Dizem que a doença volta, mas nunca tive outra crise”, conta. Com o trabalho que realiza, aperfeiçoou os conhecimentos adquiridos com a família. “Só uso remédio do mato e várias pessoas me procuram em busca de conselho. Digo o que sei, mas sempre alerto que tudo em excesso faz mal. Não sou médico.”

Uma das plantas conhecidas por Paixão é a pata-de-vaca. Essa sim já conta com estudos científicos comprovando a eficácia para controlar os níveis de glicose no sangue. Pesquisadores do Laboratório de Farmacologia Molecular da Universidade de Brasília (UnB) confirmaram o que o povo já sabia há dezenas de anos. O professor Francisco de Assis Rocha Neves, coordenador do laboratório, e o orientando Marlon Duarte da Costa verificaram em ensaios in vitro, realizados com células humanas, que o extrato da planta ativa o receptor PPAR-gama — um potente estimulador da ação da insulina, o hormônio responsável pela entrada de glicose na célula.

A má notícia para os diabéticos é que, além de facilitar a ação da insulina, o extrato da pata-de-vaca ativa outros receptores, como o estrógeno, que pode aumentar o risco de câncer de útero e mama, e o da transcrição genética, que pode alterar o funcionamento da renovação celular. Apesar do experimento ter sido feito com o extrato, Neves acredita que os efeitos nas células seriam os mesmos que com a ingestão do chá.

Os estudos científicos ainda estão em andamento, mas Crista Schops, 84 anos, usa cápsulas com extrato seco dessa planta há vários anos para evitar a diabetes. “Sou pré-diabética e meu médico receitou esse remédio. Mantenho a glicose sob controle desde então”, diz a bibliotecária médica aposentada da Secretaria de Saúde. Defensora ardorosa das plantas medicinais, Crista fala também com entusiasmo da espinheira santa, um fitoterápico para tratar úlcera e gastrite. “Precisamos valorizar a nossa vegetação terapêutica”, diz.

Futuro promissor
Várias universidades brasileiras vêm confirmando o poder medicinal das ervas do cerrado. Pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, ligada à Universidade de São Paulo (USP), demonstrou a ação anti-inflamatória da dedaleira no tratamento da asma. Os cientistas pesquisaram o extrato bruto etanólico e o princípio ativo isolado da casca do caule da planta. O trabalho, publicado na revista científica European Journal of Pharmacology, tem sua origem na tese de doutorado do pesquisador Alexandre de Paula Rogério.

Algumas espécies são indicadas para problemas de pele. É o caso da copaíba, manipulada na forma de sabonete, loções e cremes pela empresa brasiliense Farmacotécnica para o tratamento da acne. “Elaboramos o produto com base em resultados de literatura científica”, diz Leandra Sá de Lima, farmacêutica responsável pela linha de tratamento. Um outro estudo, desenvolvido por um grupo da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás, comprovou que a raiz da mamacadela tem a substância Furocumarinas fotossensibilizantes. “O principal uso terapêutico é para tratar o vitiligo. Também avaliamos e podemos dizer que a planta tem baixo poder tóxico”, afirma José Realino de Paula, que liderou a investigação.

O bioma do Planalto Central também poderá ser útil para doenças negligenciadas pelos grandes laboratórios farmacêuticos, como leishmaniose, malária, dengue e doença de Chagas. Um dos resultados das investigações em andamento na UnB é a recente descoberta da capacidade do extrato das folhas de jitó de matar o parasita causador da leishmaniose cutânea — a leishmania amazonense. O princípio ativo obtido a partir da planta é letal ao parasita, sem atacar as células dos tecidos humanos.

Daqui também poderá sair, no futuro, a pílula do homem. Com financiamento do Ministério da Saúde, a farmacêutica Renata Mazaro e Costa, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás, estuda o poder anticoncepcional de três plantas do cerrado. Entre elas está o bacupari. “O princípio ativo demonstrou resultados interessantes para o controle da reprodução masculina. Observamos uma redução de 30% na produção espermática dos ratos expostos ao extrato dessa planta”, informa a pesquisadora. Segundo ela, os estudos estão em fase final, falta avaliar as alterações hormonais provocadas nos animais em laboratório.

Enquanto cientistas fazem contato com os raizeiros e depois se trancam nos laboratórios em busca de novos medicamentos, farmacêuticos e pesquisadores ouvidos pelo Correio pedem cautela no uso dessas plantas. “Ainda há poucas pesquisas clínicas em humanos”, alerta a doutora Laila Salmen Espíndola. Porém, há esperanças. O Ministério da Saúde reativou o programa de pesquisas em plantas fitoterápicas e deve aumentar os estudos com vegetação do Planalto Central. Das 74 plantas reconhecidas como medicinais pela Anvisa, ainda não consta nenhuma do cerrado. A pomada à base de barbatimão aprovada pela Anvisa é um medicamento alopático.

(Por Maria Vitória, Correio Braziliense, Estado de Minas, 08/02/2009)


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