Com a falência do sistema comercial-financeiro, são os investimentos sócio-ambientais que vão sustentar o mercado em 2009.
Muitos se referem ao ano de 2008 como um ano difícil. Devido à crise financeira mundial e aos diversos problemas ambientais, muitos acham que, em comparação a 2008, o ano de 2007 foi um ano espetacular. No meu ponto de vista, o ano passado apenas trouxe à tona questões que se têm arrastado ao longo da década, e que tomaram proporções ainda mais significativas no decorrer do ano.
Tempos ruins, na verdade, foram aqueles nos quais tudo parecia bem, porém, logo se revelou a sujeira que estava sendo arrastada para baixo do tapete, como a sangrenta Guerra do Iraque, o descontrole do crédito mundial para financiar o setor imobiliário norte-americano, a devastação incontrolada do meio-ambiente para gerar matéria-prima na produção de mercadorias chinesas, e a falta de investimentos na área de saúde e educação em diversos países.
O ano de 2008 não foi difícil, foi revelador! E uma das principais revelações foi a importância do investimento social e governamental para sustentar as dinâmicas de mercado. O mercado comercial e de crédito não conseguem se sustentar sozinhos. É preciso investimento contínuo por parte do governo em infra-estrutura, educação e saúde da população. Ao mesmo tempo, a sociedade, representada por suas empresas e organizações sociais, precisa ter consciência de sua importância para a adoção de conhecimentos, atitudes e práticas as quais reduzem os prejuízos visíveis para o meio ambiente.
As lições de 2008 deverão ser levadas em consideração na elaboração de políticas mundiais que precisam se sustentar pelas próximas décadas.
Saio de 2008 com a sensação de que a máxima protagonizada por muitos de que o mercado comercial traz claros benefícios sociais como a empregabilidade da população, foi finalmente sepultada. O governo e as empresas erram em achar que para resolver o problema atual da crise financeira precisamos de acesso ainda mais fácil ao crédito. Isso talvez tenha algum efeito no curtíssimo prazo e é justificável pela eleição presidencial estar se aproximando.
As empresas buscam esse artifício, pois já estão viciadas nas soluções de curto prazo e na lógica de que mais consumo é igual a mais produção. No entanto, precisamos levar aos governantes e aos empresários a visão sobre a importância do investimento sócio-ambiental como ingrediente fundamental para evitar novas crises e garantir a sustentabilidade do planeta e da sociedade. Não adianta, por exemplo, alguém aumentar seu consumo de refrigerantes e depois jogar as latas na rua.
O governo e as empresas podem até achar interessante, em um curto período de tempo, que o consumo realizado tenha gerado empregos e renda, mas a cadeia sócio-ambiental estará, novamente, sendo destruída com o aumento do custo da matéria-prima e a possibilidade de que essa mesma lata seja um refúgio para o mosquito da dengue, por exemplo.
A cadeia sócio-ambiental se enriquecerá somente se os investimentos sociais atingirem patamares bem elevados. Espero que essa lição faça parte do processo decisório das empresas e dos governos. Além disso, torço para que a dinâmica produção-crédito-consumo seja substituída por uma nova dinâmica de produtividade sócio-ambiental - crédito responsável consumo consciente. A necessidade de qualificação dessa dinâmica é a maior lição de 2008. Considero 2009 o ano ideal para marcar o início de uma nova era de enriquecimento das relações humanas e ambientais.
* Miguel Fontes é Diretor da John Snow Brasil, doutorando em saúde pública internacional pela John Hopkins University, e autor do livro Marketing Social Novos Paradigmas, da editora Campus/Elsevier.
(Envolverde/Portal do Meio Ambiente, 06/02/2009)