O funeral do deputado federal Adão Pretto (PT-RS), morto na quinta-feira (05/02) vítima de pancreatite, transformou-se em um ato pró-reforma agrária. Sob bandeiras de movimentos sociais, cerca de mil pessoas se reuniram no cemitério Jardim da Paz, em Porto Alegre, em uma cerimônia que mesclou serviço religioso e política.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou à capital gaúcha junto com sete ministros e ouviu cobranças pela reforma agrária. A mais incisiva delas partiu do bispo de Goiás e conselheiro da CPT (Comissão Pastoral da Terra), dom Tomás Balduíno.
"Nossa reforma agrária cadê?", questionou o bispo ao discursar na capela, diante do presidente Lula. "Ele [Pretto] deve estar se perguntando a quem de direito", afirmou dom Tomás.
De origem camponesa, Adão Pretto, 63, foi fundador do MST no Rio Grande do Sul e cumpria o quinto mandato na Câmara dos Deputados.
Citando uma parábola do evangelho de Mateus (13:24), o bispo comparou a agricultura familiar ao trigo e o agronegócio ao joio. D. Tomás também disse que o "trigo virou minoria no Congresso" e criticou a governadora Yeda Crusius (PSDB-RS) por, segundo ele, reprimir organizações populares. Foi interrompido por aplausos três vezes.
Um dos filhos do congressista, Edgar Pretto também se dirigiu ao presidente, em discurso: "Que o senhor use todos os instrumentos que o senhor tem para fazer a reforma agrária".
Com os olhos marejados, Lula foi o último orador e não se referiu às cobranças. Lembrando que era amigo do deputado há mais de 30 anos, o presidente citou o episódio da morte de sua mãe, em 1980, no período em que estava preso por exercer atividade sindical, para se referir ao sentimento de perda da família diante da morte.
"Um homem não vale pela quantidade de discursos que fez, pela quantidade de anos que viveu; nós seres humanos valemos pela qualidade de vida, pelos compromissos e lutas que temos em vida", disse Lula.
Após abraçar os filhos do deputado, o presidente deixou o cemitério em direção ao aeroporto sem falar com jornalistas. Coube à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no final da cerimônia, defender a política fundiária do governo. "A reforma agrária é uma meta. Nós realizamos bastante até porque o honramos o Adão Pretto", declarou a ministra.
Dilma e o ministro Márcio Fortes (Cidades) cancelaram uma solenidade de inauguração de uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento, prevista para ontem em São Leopoldo (região metropolitana de Porto Alegre). O governo gaúcho decretou luto de três dias pela morte do deputado.
(Por Graciliano Rocha, Folha de S. Paulo, 06/02/2009)