Com a campanha “Refrigeração, naturalmente!” (Refrigerants, Naturally!), uma instituição ambiental do Reino Unido quer que supermercados se comprometam a não instalar novos equipamentos com Hidrofluorcarbonetos (HFCs) até o fim de 2009 e, para isso, pede a ajuda do público exigindo mudanças.
Os HFCs são aceitos por todo o mundo para substituir os Clorofluorcarbonetos (CFCs) por não causarem a destruição da camada de ozônio, porém possuem um altíssimo potencial de aquecimento global. O gás é liberado na atmosfera por vazamentos nos equipamentos e cada molécula tem o mesmo efeito para o aumento das temperaturas que até 14.760 moléculas de dióxido de carbono (CO2).
A Agência de Investigação Ambiental (EIA - Environmental Investigation Agency) mostra, em uma pesquisa divulgada nesta semana, que o uso de HFCs nos sistemas de refrigeração predomina de forma maciça nas 11 maiores redes de supermercados britânicas. Das 6276 lojas pesquisadas, apenas 14 usam um gás alternativo aos HFCs.
Em “Chilling Facts – The big supermarket refrigeration scandal” (Fatos Arrepiantes – O escândalo da refrigeração em grandes supermercados), a EIA também conclui que a tímida divulgação do risco que estes gases impõem ao clima é a principal razão para a falta de medidas que combatam o seu uso.
“O fato de eles serem poderosos gases do efeito estufa era largamente ignorado. Somente mais recentemente, com a questão do aquecimento global aumentando no domínio público e político, que se começou a prestar atenção nos HFCs”, afirma Fionnuala Walravens, da EIA e uma das coordenadoras da pesquisa.
A pesquisa revelou ainda que o governo não faz muita coisa para ajudar as empresas na substituição dos gases. Segundo os supermercados, o governo deveria oferecer incentivos para que eles comprassem refrigeração natural assim como criar legislações sobre o treinamento de engenheiros de empresas de manutenção para que eles trabalhem com gases climaticamente corretos.
“As pessoas têm usado os HFCs porque eles são convenientes – não são tóxicos nem inflamáveis, mas o custo ambiental real destas substancias é frequentemente ignorado”, comenta Fionnuala.
A previsão é que as emissões globais de HFCs em 2015 serão equivalentes a 1,2 bilhões de toneladas de CO2. Os dados mais recentes sobre o uso de HFC datam de 2002 e mostram que o ar condicionado móvel (de automóveis, por exemplo) é responsável por 50% do mercado de HFC e a refrigeração comercial, como a de supermercados, responde por 25% do total.
Segundo Fionnuala, as alternativas para o HFCs climaticamente corretas são um pouco mais desafiadoras. Alguns gases que podem ser usados no lugar dos HFCs são a amônia (NH3), o CO2 e os hidrocarbonetos.
“A amônia é tóxica, por isso os sistemas precisam ser selados e só podem ser usados longe do público. Os hidrocarbonetos têm um potencial muito bom para a refrigeração, mas seu elevado potencial de inflamação exige sistemas bem planejados e um certo nível de manutenção”, explica.
Fionnuala ressalta, contudo, que estes fatos não devem ser obstáculos para que os HFCs sejam vistos como seguros e comumente usados em muitas partes da Europa.
Legislações
A Europa criou uma regulação chamada F-gas que incentiva a contenção de HFCs. Alguns países europeus deram um passo adiante criando impostos sobre os HFCs de acordo com o potencial de aquecimento global do gás utilizado. Estas taxas são então devolvidas quando os velhos HFCs são desativados. A Dinamarca e a Áustria também possuem legislação banindo o uso de HFCs em certos equipamentos.
No Brasil, o gás é também utilizado em sistemas de refrigeração e não existe nenhuma legislação que incentive o uso de gases menos prejudiciais ao clima.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 06/02/2009)