Poderá ser pior do que se pensava, avisam hoje os especialistas na revista "Science". A subida do nível dos oceanos em caso de colapso da grande placa de gelo no Oeste da Antárctica poderá ultrapassar os 16 ou 17 pés previstos (cerca de cinco metros) e atingir 21 pés (quase seis metros e meio). Washington D.C., nos EUA, ficaria submerso. Segundo investigadores da Oregon State University e da Universidade de Toronto, muitas zonas costeiras seriam engolidas pelas águas e uma grande parte do Sul da Florida desaparecia. Ao que parece as anteriores previsões ignoraram algumas variáveis importantes.
O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) estimou que o colapso do grande manto de gelo no Oeste da Antárctica seria capaz de subir o nível dos oceanos em cerca de 16,5 pés. Esse tem sido o valor citado cada vez que se fala no assunto. No entanto, esta estimativa não terá tido em consideração alguns factores como a gravidade, alterações na rotação da Terra, entre outros. Segundo os peritos, a força exercida pela massa do manto de gelo tem uma repercussão na tracção gravitacional. “Um estudo feito há mais de 30 anos já apontava para este efeito gravitacional mas acabou por ser ignorado. Esqueceram-se dele quando fizeram as projecções para o futuro”, nota Peter Clark, professor de geociência na Oregon State University. Além deste factor, os especialistas juntaram ainda outras alterações aos cálculos anteriores. Segundo explicam, sem o peso daquela camada de gelo o eixo de rotação da terra pode ser desviado um terço de uma milha (530 metros), o que afectará a subida do nível dos oceanos em vários locais.
Com todas as forças que juntaram no cálculo, os cientistas concluem que se a placa colapsar o nível do mar desce na Antárctica e sobe no hemisfério Norte. Se este grande manto de gelo derreter, a subida do mar na Costa Este da América do Norte vai ter mais de um metro (cerca de 1,20m) do que estava previsto atingindo os 21 pés. Neste cenário, na Europa os oceanos subiriam cerca de 18 pés. “Se isto acontecesse, iríamos assistir a muitos outros impactos que vão muito além da subida do nível dos oceanos, incluindo o aumento da erosão costeira e tempestades, problemas com a salinização das águas, entre outros problemas”, refere Clark, prevendo ainda possíveis consequências noutros glaciares e placas de gelo.
Os especialistas sublinham que não é claro ainda quando (ou mesmo se) o colapso da placa pode acontecer. É um fenómeno que tem vindo a ser equacionado como consequência do aquecimento global mas que pode ter lugar daqui a centenas de anos ou até ocorrer apenas parcialmente. “No entanto, estes mesmos efeitos podem ser aplicados a qualquer quantidade de gelo que derreta no Oeste da Antárctica”, sublinha Peter Clark, frisando que topograficamente a placa encontra-se numa situação instável.
Em 2006, dois estudos publicados também na "Science" alertavam já para uma possível subida do nível dos oceanos a rondar os seis metros num horizonte temporal de cem anos. A previsão falava num degelo mais acelerado do que se pensava no Árctico e na Antárctica e baseava-se em trabalhos de análise de corais milenares e amostras de gelo e apoiados em modelos climáticos computacionais para fazer o preocupante aviso. O artigo publicado hoje na "Science" reforça esta projecção e parece corrigir definitivamente as anteriores previsões.
(Por Andrea Cunha Freitas, Ecosfera, 05/02/2009)