As culturas de soja, algodão e milho geneticamente modificadas plantadas no Brasil deverão representar uma economia de 105,1 bilhões de litros de água em dez anos - o suficiente para abastecer 2,4 milhões de pessoas. Mas os benefícios da tecnologia, segundo pesquisa divulgada ontem, não terminam por aí. Os transgênicos trariam ainda economia de 806,5 milhões de litros de diesel gastos no campo e a consequente redução de 2,1 milhões de toneladas de CO2 jogados na atmosfera no período.
Essas são as conclusões dos analistas da consultoria Céleres, contratada pela Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) para investigar, pelo segundo ano, os benefícios que cultivos geneticamente modificados podem trazer ao país entre as safras 2008/09 e 2017/18. A diferença, nesta edição, foi a inclusão do milho transgênico, aprovado no ano passado.
"Esse estudo é importante para nós porque se a ciência não contemplar o aspecto socioambiental, não faz sentido", disse Ywao Miyamoto, presidente da Abrasem. Os consultores fizeram projeções para dois cenários: o que utiliza o pacote tecnológico para soja, milho e trigo e o que não o utiliza.
Em entrevistas com 370 agricultores de nove Estados, os analistas verificaram uma redução média de duas aplicações de defensivos na lavoura tecnológica. Com menos aplicações, projetaram uma economia no uso de água de 59,1 bilhões de litros no cultivo de soja, 35,7 bilhões no milho e 10,3 milhões de litros no algodão.
Nos campos convencionais, a água é utilizada em abundância para dissolver e pulverizar defensivos. "E isso só no Brasil. Imagine se extrapolássemos esse dado para o mundo", diz Paula Carneiro, do Céleres.
De modo geral, aplicações com menos frequência têm impacto direto no consumo de diesel de caminhonetes e nas emissões de gases. Fazendo as contas e somando uma ponta à outra (segundo referências metodológicas internacionais), os analistas afirmaram: há mais benefícios com a tecnologia.
Em dez anos, a projeção de ganhos para quem utilizar o algodão Bollgard, por exemplo, é de US$ 4,6 bilhões. "Mas o custo chega a US$ 7,5 bilhões para quem não adotar", diz Anderson Galvão, responsável pelo levantamento econômico pela Céleres. No milho, a proporção seria de US$ 51 bilhões de ganhos em dez anos e US$ 84 bilhões de custos. A soja teria benefício potencial de US$ 11 bilhões.
O Brasil já é o terceiro produtor mundial de transgênicos, com 15 milhões de hectares plantados em 2007. Tudo isso, porém, não encerra a polêmica: qual o impacto no longo prazo ao homem e à biodiversidade? É a pergunta que muitos setores da sociedade colocam.
(Por Bettina Barros,
Valor Econômico, 06/02/2009)