Os resíduos industriais que há quase seis anos causaram o maior desastre ecológico do país estão de volta à natureza. Desde o início de janeiro, a Cataguazes Indústria de Papel vem colocando em prática uma solução que acredita ser a mais apropriada para eliminar de vez o 1,1 milhão de metros cúbicos de resíduos restantes das barragens da empresa, em Cataguases, na Zona da Mata.
Em 2003, uma das barragens cedeu, despejando no Rio Pomba 1,1 bilhão de metros cúbicos de substâncias industriais, desaguando nas águas do Rio Paraíba do Sul, em direção ao estado do Rio de Janeiro. Depois de seis anos, a iniciativa, aprovada pelos órgãos de meio ambiente, é um plano emergencial para evitar novo desastre.
Despejando 40 litros da substância por segundo no Córrego Cágado, afluente do Rio Pomba, a providência, segundo técnicos ambientais, não tem trazido problemas nem riscos para água, já que foi constatado que sua qualidade não sofreu alteração.
“A substância é inerte, diluindo-se com facilidade na água. Não há produto contaminante, ela é similar ao esgoto sanitário. O único porém é a sua cor escura, mas já constatamos que, depois de 30 quilômetros abaixo do lançamento, ela se mistura à água”, explica a diretora de Qualidade e Gestão Ambiental da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Zuleika Torketti. Ela afirma que o plano emergencial foi implantado devido às chuvas, que aumentaram o nível das águas das barragens.
O grande problema é que, com o primeiro desastre ambiental em 2003, restou nas duas barragens 1,1 bilhão de metros cúbicos de resíduos, que com o tempo, segundo a diretora, foram se diluindo e sofrendo degradação natural. A empresa tentou alternativas para a retirada da substância, mas não obteve sucesso.
No ano passado, ela apresentou o estudo “Alta depuração do Rio Pomba” aos órgãos ambientais de Minas, em que sugeria o lançamento do resíduo de forma gradativa no rio, para que ele pudesse absorvê-lo. Mas, com a intensidade das chuvas, o estudo tornou-se um plano emergencial.
TubulaçãoA Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Minas (Semad) autorizou, em caráter de emergência, a sua execução, mas, diferentemente do que propunha a empresa, o lançamento seria feito primeiro no Córrego Cágado. “Para lançá-lo diretamente no Pomba era necessária a construção, entre a barragem e o rio, de tubulação de sete quilômetros, mas isso era impossível de ser feito em curto prazo”, afirma Zuleika. Ela ressalta que o projeto inicial ainda está sob avaliação e que no dia 15 a empresa terá de apresentá-lo para que a Agência Nacional de Água (ANA) autorize o andamento.
Até 31 de março, o lançamento emergencial estará em vigor. “Se não colocássemos essa ideia em prática, fazendo um lançamento controlado da substância, as barragens poderiam ceder, assim como em 2003”, justifica Zuleika, apontando que a cada 400 litros de água do rio é lançado um litro de resíduo. “Ainda não existe um projeto detalhador, é um estudo técnico necessário. É preciso a construção da tubulação e de um difusor subaquático, para o lançamento debaixo d’água, para que haja a mistura”, completa.
O plano foi colocado em ação em 23 de janeiro, segundo a Semad, e 12 horas depois, foram feitas coletas no córrego e no rio, procedimento contínuo nos seis dias seguintes. A conclusão dos técnicos ambientais é de que não houve alteração na qualidade da água.
De olho nesse monitoramento e com receio de que um novo desastre ecológico possa acontecer no estado, a Secretária de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Marilene Ramos, diz estar de acordo com o procedimento adotado e acredita que não haja riscos ambientais no plano emergencial. “É como se fossem conta-gotas despejando quantidade muito pequena desse líquido. Não é o ideal, mas, entre isso ou correr o risco de um novo acidente, é preferível essa iniciativa. Não temos escolha”, diz.
EstudoPara que fosse desenvolvido o estudo, a Iberpar Empreendimentos e Participações Ltda, à qual pertencem a Cataguazes Indústria de Papel e a Florestal Cataguases, contratou pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa. “Depois do ocorrido, houve tratamento biológico dos resíduos nas barragens”, ressaltou o advogado ambientalista da empresa, Serafim Couto, que preferiu não revelar o custo do estudo nem do tratamento. “É uma quantia muito alta”, alertou.
Depois da aprovação da ANA, o projeto da empresa será colocado em prática, visando principalmente a desativação das duas barragens. Segundo Serafim, até o fim do ano, uma delas, que não cedeu e que contém 230 mil metros cúbicos de resíduos industriais, estará concluída. A outra, que comporta 870 mil metros cúbicos de substância, ficará pronta até o fim do ano que vem.
(Por Luciane Evans,
Estado de Minas, 05/02/2009)