Um terço dos moradores da área do Guarita vai às urnas hoje para eleger o caingangue que será líderÉ como se a maior cidade gaúcha fosse escolher seu prefeito hoje. Na Reserva Indígena do Guarita, mais populosa do Estado, os caingangues elegem o novo cacique das 8h às 17h.
Vão às urnas convencionais depositar cédulas de papel 2.224 indígenas – cerca de 30% dos moradores – em Redentora e Tenente Portela, onde a reserva está localizada. Três candidatos concorrem a cacique, a função mais respeitada dentro de uma tribo: o atual chefe, Valdonês Joaquim, o ex-cacique Carlinhos Alfaiate e Luiz Cipriano. Havia um quarto candidato, que desistiu.
Desde 2000, a reserva realiza eleições, prática que não ocorre em todas as aldeias do Brasil. Fazer votação para o cargo é uma decisão das comunidades, não há lei que obrigue a prática. A campanha começou no final de janeiro e se encerrou às 20h de ontem. Em uma das etapas, os três candidatos se reuniram em cada um dos 12 setores da reserva. Eles tinham 15 minutos para apresentar suas propostas para a área e 10 minutos para ser questionado pelos moradores. Numa segunda etapa, podiam fazer campanha sozinhos, mas sem atacar os adversários. Bandeiras e santinhos estavam liberados.
Para ocupar o mais alto posto na tribo, é preciso ter no mínimo 21 anos, ser obviamente indígena e casado, conforme a chefe do posto da Fundação Nacional do Índio (Funai) da Guarita, Janir Terezinha Herrmann. O último requisito é importante, porque ter família constituída é questão fundamental para os caingangues.
O pleito ocorre quando não há um consenso sobre quem será o chefe.
– Antigamente, o cacique era escolhido pelo que produzia, por ser mais velho, ter mais conhecimentos sobre as tradições e vivência. Era escolhido pela valentia na época da colonização, para não deixar as terras serem ocupadas– conta o professor de História e caingangue Bruno Ferreira.
Pleito seria em junho, mas foi antecipadoO Ministério Público Federal (MPF) acompanha o período eleitoral na Guarita e ajuda a organizar o pleito. Conforme o procurador da República em Santa Rosa, Gabriel Silveira de Queirós Campos, os indígenas têm plena autonomia para decidir como escolherão seus chefes e quanto tempo eles ficarão no poder.
O pleito estava inicialmente marcado para 15 de dezembro de 2008, mas como a data era próxima das eleições municipais, foi transferido para junho. Mas no começo do ano os indígenas decidiram antecipar para fevereiro.
(
Zero Hora, 05/02/2009)