Um documentário sobre o assassinato da freira católica norte-americana Dorothy Stang na Amazônia, quatro anos atrás, renovou a esperança de seu irmão de que os suspeitos mandantes de sua morte sejam finalmente condenados. Irmã Dorothy foi morta em 2005, aos 73 anos, depois de passar anos ajudando os pobres na região amazônica brasileira a defender a floresta e seus direitos, ameaçados por fazendeiros poderosos.
Três pessoas estão presas pelo crime, sendo duas delas pistoleiros. Mas um dos fazendeiros suspeitos de ser um dos mandantes teve sua condenação revogada no ano passado, e outro, Regivaldo Pereira Galvão, foi preso apenas no mês passado e agora aguarda julgamento.
"O filme foi muito influente para a nova prisão de Regivaldo", disse David Stang, irmão de Dorothy, à Reuters no Fórum Social Mundial em Belém, onde milhares de ativistas se reuniram na semana passada. Ele disse que imagens no filme Mataram a Irmã Dorothy mostrando Galvão negando no Supremo Tribunal que tivesse direito de propriedade sobre o lote 55, onde a freira foi morta, estavam ajudando os promotores a reabrir o processo contra ele.
Galvão foi preso em 2005, mas recorreu a apelações para evitar ser levado a julgamento. No ano passado ele entregou ao Incra documentos mostrando que é dono da terra disputada e a quer de volta. Com isso, lançou em dúvida seu principal argumento de defesa. Ele tinha argumentado que não tinha direito à terra e, portanto, que não teria tido motivos para matar a freira.
Ex-missionário católico na África e hoje residente no Colorado, David Stang visita o Brasil com freqüência para buscar justiça para sua irmã, que nasceu em Ohio e se naturalizou brasileira. Ele disse que o filme — que foi um dos candidatos escolhidos para a disputa do Oscar, mas não chegou a ser indicado — é uma homenagem poderosa à sua irmã e também uma crítica contundente à justiça no Brasil.
Constrangimento
Mataram a Irmã Dorothy é narrado pelo ator Martin Sheen na versão americana, lançada no ano passado. O documentário está previsto para estrear no Brasil em março — mas já foi exibido em alguns eventos no país, incluindo o Fórum Social.
"Este filme mostra a debilidade de todo o sistema de justiça, e isso é forte. Quando a exibição termina, as pessoas aplaudem e dão vivas. Elas entendem — elas sabem que este sistema judiciário talvez nunca nos proteja, mas proteja apenas os que têm dinheiro", disse Stang. "No início do filme, um dos pistoleiros diz muito claramente que quem tem dinheiro nunca vai para a prisão."
David Stang disse que o sistema legal brasileiro viciado explica por que o outro fazendeiro acusado de ser mandante do crime, Vitalmiro Bastos de Moura, foi absolvido em novo julgamento no ano passado — um ano depois de ter sido sentenciado a 30 anos de prisão por ordenar o assassinato da freira. Conhecido pelo apelido de "Bida", o fazendeiro foi solto porque um dos pistoleiros disse ao tribunal que matou a irmã Dorothy por suas razões próprias.
"Por que Bida não está na prisão?", disse Stang. "Ele foi condenado a 30 anos e foi libertado menos de um ano depois. Isso é embaraçoso." O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a decisão de absolver Bida foi uma "mancha" na reputação do Brasil no exterior, mas o processo contra o fazendeiro não foi reaberto. "Como é possível que o presidente Lula afirme que a decisão judicial foi uma farsa, mas que não seja feito novo julgamento?"
MST, com informações da Reuters, 04/02/2009