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iluminação artificial saúde pública
2009-02-05

A comunidade da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp assistiu na sexta-feira (23/01), à demonstração pública da sua primeira tese de doutorado na área de iluminação do Departamento de Arquitetura e Construção (DAC). O tema defendido pela pós-graduanda Betina Tschiedel Martau, orientado pelo professor Paulo Sérgio Scarazzato, aborda os impactos não-visuais da exposição humana à luz, relacionando a qualidade da iluminação à saúde e bem-estar das funcionárias de lojas de rua e shopping centers em Porto Alegre. A pesquisa apontou para a necessidade de revisar as atuais estratégias de iluminação dessas lojas e de buscar solução para conflitos entre a iluminação de vender produtos e aquela que considera a loja um ambiente de trabalho.

As questões sobre iluminação no ambiente de trabalho em geral passam despercebidas pelas pessoas. “Elas acabam se adaptando às condições ambientais desconfortáveis e não têm consciência do que exatamente não é agradável em um ambiente”, observa Betina. A iluminação inclusive, lamenta a pesquisadora, é um componente da arquitetura pouco valorizado até mesmo pelos arquitetos. “Acredito, no entanto, que tem ele um enorme potencial de valorização das características do projeto, além de proporcionar bem-estar aos usuários”, alude-se.

Pesquisa com funcionárias 

Foram selecionados três grupos de dez funcionárias de lojas: de rua em contato com o exterior e turno de trabalho diurno (9 às 18 horas), de shopping centers sem janelas para o exterior e turno de trabalho diurno (9 às 18 horas) e de shopping centers sem janelas para o exterior e turno de trabalho vespertino e noturno (14 às 22 horas). A avaliação da iluminação considerou as dimensões das lojas e características dos sistemas, como ofuscamento, aparência de cor da luz, flexibilidade e possibilidade de controles da iluminação pelas funcionárias.

Para a avaliação da saúde e bem-estar, foram utilizados instrumentos como escalas psicométricas validadas, a fim de aferir sintomas depressivos, de ansiedade e estresse. A avaliação das condições de sono e análise do ritmo de atividade e repouso foram feitas com um actímetro acoplado a um luxímetro. A análise do ritmo de temperatura corporal foi realizada com um sensor de temperatura. Estabeleceu-se o padrão de luz 24 horas para cada participante, por cinco dias consecutivos, quando foram medidos os níveis de melatonina e cortisol salivar.

Esses dois hormônios foram medidos através de coleta de saliva em três horários determinados e analisados a partir de kits de análises químicas. Os resultados apontaram para alterações nos níveis e no ritmo destas substâncias. No grupo das trabalhadoras de shopping centers manhã e tarde, houve uma tendência à perda de ritmo de cortisol, o que representa uma possibilidade de doença, se mantidas as condições por muito tempo. No grupo de trabalhadoras de shopping centers tarde e noite, houve uma alteração no horário de pico da melatonina, indicando um possível atraso de fase na produção deste hormônio. Estes achados indicam, portanto, que há necessidade de estudar com maior profundidade as relações entre os sistemas de iluminação e a saúde das funcionárias das lojas.

Betina afirma que o estresse, a ansiedade e a depressão são doenças que podem ser causadas sim pelo tipo de ambiente em que a pessoa vive ou trabalha. Nesta investigação, ela admite que o excesso de iluminação artificial, a falta de contato visual com o exterior e os turnos de trabalho que avançam em períodos noturnos podem estar relacionados a doenças, sobretudo nas lojas analisadas.

Satisfação 

A satisfação das funcionárias e suas preferências pela iluminação no ambiente de trabalho foram extraídas de questionários. Os dados foram analisados com o auxílio de programas computacionais. No grupo das lojas de rua, os resultados indicam que, apesar do nível de satisfação com os sistemas de iluminação não ser elevado, a presença de luz natural contribui para a sua saúde e o bem-estar. O cruzamento de aspectos de satisfação e emocionais com os aspectos biológicos indicou que, quanto maior a satisfação geral com a iluminação pela funcionária da loja de rua, maior o nível de melatonina às 24 horas e menores os escores de depressão.

Concluiu-se que o contato com o exterior neste grupo leva a melhores condições fisiológicas, principalmente nas condições de sono. Nos grupos de shopping centers, a correlação inversa encontrada entre a iluminância geral média da loja e a satisfação geral com as condições da iluminação no ambiente de trabalho merece destaque, porque é nesta categoria que os escores foram mais altos, com piores condições emocionais, isso em todas as escalas aplicadas e onde há alterações nos aspectos biológicos avaliados.

Betina defende uma questão que, apesar de básica, necessita ser levada em conta: é sempre bom permitir o contato visual com o exterior e a presença da luz natural, o que implicaria na modificação da tipologia de shopping centers, valorizando projetos dos chamados shoppings abertos. Outra estratégia, segundo ela, é diminuir os níveis de iluminação geral das lojas, aumentando a iluminação de destaque apenas nos produtos, e não nas funcionárias. “Além disso, usar lâmpadas de diferentes espectros e permitir a flexibilidade de iluminâncias e temperaturas de cor da luz, buscando uma similaridade com o ritmo da luz natural externa, que varia ao longo do dia nestas características, certamente contribuiria para o aumento da saúde e bem-estar das funcionárias”, aconselha.

(Por Isabel Gardenal, Unicamp, 04/02/2009)


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