Em tempos de crise, empresas de setores como açúcar e álcool e papel e celulose estão tirando partido de resíduos do processo produtivo para produzir energia. Com isso, resolvem ao mesmo tempo um problema ambiental - a destinação dos resíduos -, reduzem a conta de energia elétrica e ampliam o uso de fontes renováveis, como a biomassa.
A fabricante de papel Klabin, está realizando investimentos para fazer com que as caldeiras de sua fábrica em Monte Alegre (PR) se tornem "flexíveis" e funcionem com vários combustíveis alternativos. Entre 2006 e 2007, foram investidos R$ 300 milhões em melhorias ambientais.
Ao longo de 2009, serão outros R$ 42 milhões, afirma Júlio Nogueira, gerente ambiental da Klabin. "Destes, R$ 20 milhões serão empregados em equipamentos para utilizar o tall oil, um subproduto da fabricação de papel com alto poder calorífico, em combustível para as caldeiras e fornos."
Além do tall oil, a Klabin já utiliza outras fontes alternativas de energia. Só a caldeira movida a biomassa (resto de madeiras da empresa e da indústria madeireira dos municípios vizinhos) produz 200 toneladas de vapor por hora. Outros combustíveis utilizados são o metanol e o lodo resultante do tratamento dos efluentes da fábrica.
"Há um ganho energético associado ao ganho ambiental", diz Nogueira. O sistema de caldeiras "flexíveis" já permite uma redução de 435 toneladas de óleo combustível por mês, o que deve habilitar a empresa a vender créditos de carbono no mercado internacional.
VinhaçaNo setor de açúcar e álcool, onde o uso da biomassa para produzir energia elétrica é consolidado, começam a surgir projetos de aproveitamento para fins energéticos da vinhaça, resíduo do processo de produção do etanol, rico em nutrientes, mas que é considerado um dos maiores problemas ambientais do setor.
A Usina São Martinho, de Pradópolis (SP), está produzindo energia a partir da vinhaça. A usina instalou biodigestores (equipamentos que fazem a degradação da matéria orgânica) para produzir o biogás, que é empregado como fonte de energia complementar.
O aproveitamento da vinhaça para produção de energia, da ordem de 20%, já permite uma economia anual de 5.625 megawatts, conta Agenor Pavan, diretor agroindustrial da Usina São Martinho. "Hoje, o grande potencial do biogás da vinhaça ainda é pouco aproveitado pela indústria, mas deve crescer nos próximos anos."
De acordo com João Mello, presidente da consultoria de energia Andrade & Canellas, é possível produzir até 1.000 megawatts de energia com a vinhaça, só no Estado de São Paulo. "É uma nova tendência", diz. Segundo ele, não faltará matéria-prima. "Com o fim das queimadas, previsto para 2011, haverá ainda mais biomassa para produzir energia."
AlternativasVinhaça: resíduo do processo de produção do etanol, rico em fósforo, nitrogênio e potássio. Biodigestores transformam o resíduo em biogás, usado como combustível auxiliar
Tall oil: subproduto da fabricação de papel, é um líquido com alto poder calorífico
Metanol: extraído da madeira, é usado em substituição ao óleo combustível
Biomassa: resíduos orgânicos do processo produtivo, como restos de madeira e resíduos da moagem da cana
(Por Andrea Vialli,
Estado de S. Paulo, 04/02/2009)