O departamento de Energia do Governo norte-americano (DoE) convidou o INESC Porto a desenvolver uma nova e melhor plataforma de previsão de potência eólica. O projecto vai permitir prever com grande precisão e menor margem de erro a produção de energia eólica num horizonte temporal que pode ir até três dias.
O modelo encomendado pelo ANL – Argonne National Laboratory, da rede de Laboratórios do DoE estará concluído até Setembro de 2010 e quer reduzir a actual margem de erro das previsões que ronda os 20 por cento para cerca de 15 por cento, segundo explicou Vladimiro Miranda, director do INESC e coordenador deste projecto. Trata-se de uma ferramenta que poderá “minimizar os potenciais riscos da crescente dependência dos EUA relativamente às energias renováveis: apagões/blackouts”.
“O trabalho que vamos desenvolver vai adicionar novidades aos modelos que temos hoje. O que nos comprometemos a fazer para o ANL foi um modelo diferente e mais inteligente. Algo diferente e melhor do que existe”, conta o director do INESC, adiantando que as actuais ferramentas de previsão permitem já uma antecipação de três dias. O desafio agora é reduzir a margem de erro e fazer um upgrade destes instrumentos. Até ao final deste ano o INESC vai desenvolver um protótipo e avançar para testes comparativos com dados reais.
Com o clima que oscila entre o temperado e o subtropical e dada a geografia local, os erros na previsão do vento “podem ter consequências mais graves nos EUA do que em qualquer país europeu”, explica Vladimiro Miranda. Assim, o modelo concebido pela equipa de investigadores portugueses será usado no instável território norte-americano para prevenir eventuais cortes de energia. “A prevenção tem a ver com a necessidade de fazer previsão com precisão”, nota Vladimiro Miranda. O coordenador do projecto sublinha que este planeamento é mais importante nos EUA onde não existe a alternativa hidroeléctrica (como existe na Península Ibérica, por exemplo) e onde em caso de urgência devido a uma falha de energia eólica uma central térmica pode ser activada em algumas horas e uma nuclear pode demorar dias.
“Espera-se ainda que a previsão mais exacta da quantidade de vento numa dada localização venha a ter um impacto considerável na indústria de electricidade norte-americana, permitindo baixar o preço da energia eólica nos Estados Unidos. A Horizon Wind Energy, empresa do grupo EDP cuja presença nos EUA é cada vez mais forte, foi convidada pelo ANL - Argonne National Laboratory – para ser observador e potencial fornecedor de dados reais”, acrescenta uma nota de imprensa do INESC.
Uma em cada dez horas de energia vem do vento
Apesar da posição incipiente no contexto internacional com uma percentagem de produção de apenas um por cento, é nos EUA que se regista o ritmo mais acelerado no desenvolvimento de energia eólica de todo o mundo. Portugal já é um dos lideres nesta área, ocupando o terceiro lugar (atrás da Dinamarca e da Espanha) no ranking mundial da energia eólica com uma produção que já ronda os 10 por cento. “O que quer dizer que uma em cada dez horas de energia que gastamos vem do vento”, explica Vladimiro Miranda, adiantando que o INESC colabora também num projecto para garantir a segurança de abastecimento na Península Ibérica até 2025.
Porém, apesar de apenas reservar um por cento da produção de energia para a força do vento, os EUA tem já mais capacidade instalada do que Portugal em termos de volume absoluto. E esta aposta nas energias renováveis não deverá abrandar nos próximos tempos. “No último ano de mandato de Bush já se sentia uma aposta neste sector e já se ouve a notícia que a nova administração de Obama vai fazer um reforço”, refere o coordenador do projecto do INESC.
Assim, Portugal vai exportar para os EUA algum do conhecimento adquirido nesta área. “No campo da energia eólica a Europa está cerca de dez ou doze anos mais avançada que os EUA”, sublinha Vladimiro Miranda.
(Por Andrea Cunha Freitas, Ecosfera, 04/02/2009)