A pior nevasca em 18 anos no Reino Unido provocou um colapso do sistema de transporte e deixou boa parte dos britânicos ontem com a sensação de morar "em um país de terceiro mundo", como disse um irritado londrino. A estimativa de grupos empresariais é que a economia britânica tenha perdido 1 bilhão de libras (R$ 3,4 bilhões) por causa da neve ontem.
Os principais aeroportos do país foram fechados ou sofreram graves interrupções. Heathrow, o mais movimentado da Europa e por onde chega a maioria dos voos do Brasil, fechou as duas pistas depois que um avião derrapou ao manobrar e foi parar na grama coberta de neve. Mais de 700 voos foram cancelados -no auge do apagão aéreo brasileiro, na Páscoa de 2007, pouco mais de 100 voos foram cancelados em São Paulo em uma noite.
Pela primeira vez em décadas, os quase 8.000 ônibus vermelhos que compõem a paisagem londrina não saíram às ruas, e só 1 das 12 linhas de metrô operou normalmente. "É difícil imaginar como alguns centímetros de neve podem complicar a vida em Londres", disse o advogado Conrad Marais, 33, enquanto tentava embarcar num trem para casa na estação de Waterloo. "O que mais chamou a atenção é que muitas lojas fecharam."
Londres raramente enfrenta nevascas. Normalmente, neva algumas vezes durante o inverno, mas não chega a haver acúmulo no chão. Ontem, caíram 15 centímetros de neve, e havia previsão de mais para a madrugada de hoje.
Brasileiros também foram afetados pela nevasca na ilha. Uma comitiva de executivos da Petrobras que ia participar de uma apresentação na capital britânica ficou nove horas presa no aeroporto de Gatwick, o segundo maior da cidade, porque o trem que leva ao centro estava parado e não havia outro meio de sair. Quando chegaram à reunião, já tinha terminado.
"É uma vergonha parar por causa disso. Em Nova York cai muito mais neve e isso não acontece", disse Hugo Repsold Jr., integrante do grupo. A previsão é que o frio continue a semana toda, com mais neve e massa de ar vinda da Rússia. Ontem, a França, a Bélgica e a Itália também sofreram com o mau tempo, com atrasos nos voos em seus principais aeroportos.
(Por Pedro Dias Leite, Folha de S. Paulo, 03/02/2009)