O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, admitiu ontem em Londres que, como último recurso caso a situação continue a piorar, a empresa pode cortar até 35% do plano de investimentos para os próximos anos, o equivalente a US$ 61 bilhões de US$ 174,4 bilhões.
Gabrielli disse que a empresa já tem todos os recursos para investimentos neste ano, já levando em conta o atual preço do petróleo, e mais da metade para 2010. "No momento, todos os recursos para os nossos investimentos estão garantidos." A companhia ainda busca no mercado US$ 8,9 bilhões para investimentos do ano que vem -de um total de US$ 18,9 bilhões, já tem US$ 10 bilhões garantidos do BNDES.
Mas Gabrielli afirmou que a empresa tem flexibilidade no caso de piora significativa do cenário, como uma queda ainda maior nos preços do petróleo e um aumento no custo dos investimentos. Nessa situação, considerada improvável, os 35% de projetos da empresa que estão nas fases 1 (em avaliação) e 2 (etapa conceitual) seriam os primeiros alvos de cancelamentos ou congelamentos. Os das fases 3 (desenho), 4 (aprovado) e 5 (compra) estão garantidos.
"Esses US$ 61 bilhões seriam os cortes mais prováveis, sem afetar em nada os atuais projetos", disse, ressalvando que, antes de tomar uma medida como essa, a empresa ainda teria vários outros meios de buscar financiamento no mercado.
"É muito improvável que, com o preço do petróleo a US$ 37, os investimentos continuem no mesmo patamar. Aí temos duas opções: cancelar projetos ou buscar mais financiamento."
Apresentação concorridaO presidente da Petrobras está em Londres para um "tour" para convencer investidores estrangeiros de que a empresa é atraente. Mesmo com a pior nevasca em duas décadas na cidade, 50 investidores e analistas lotaram o pequeno auditório num hotel para assistir a três horas de apresentações sobre a Petrobras.
Alguns deles, ouvidos pela Folha sob a condição de não serem identificados, disseram que consideraram o plano de investimentos ambicioso, mas factível. Gabrielli disse que os US$ 9 bilhões para investimentos em 2010 devem ser captados no mercado internacional, o que explica o interesse em conversar com investidores. Hoje ele deve ir para Oslo (Noruega).
O executivo disse que a Petrobras não só não planeja demitir como deve contratar mais para conseguir fazer todos os projetos que estão planejados. A estatal estuda comprar máquinas ou até empresas de perfuração, num investimento para agilizar esse processo.
(Por Pedro Dias Leite,
Folha de S. Paulo, 03/02/2009)